A Busca de Príncipes Encantados

por Solange Maria Rosset*

 

A busca de um príncipe ou de uma  princesa encantados ainda norteia muitos homens e mulheres em suas uniões afetivas. As características desejadas se alteraram, adequando-se ao mundo atual. Mas a base do comportamento continua a mesma:  querem alguém perfeito, completo e estável, que traga felicidade e ainda supra todas as suas necessidades.

Esse anseio pelo par perfeito tem alguns aspectos positivos, como a consciência dos próprios desejos, das próprias necessidades, de forma que o autoconhecimento auxilie nas escolhas de parcerias. Mas a manutenção da busca por uma pessoa idealizada tem o inconveniente de dificultar a evolução do relacionamento.

Numa relação amorosa, normalmente não se enxerga o outro com clareza. Cada um dos parceiros o vê por intermédio do filtro dos próprios desejos e necessidades insatisfeitos. Os dois esperam que o outro os complete, ame e cuide deles. Ao perceberem que isso não vai ocorrer no grau desejado, é comum abandonarem o companheiro ou a companheira e saírem à procurar de outro “amor”. Continuam, porém, repetindo  uma forma inadequada de agir. Deveriam é tomar consciência do próprio erro e estabelecer um novo contrato consigo mesmo e com o parceiro. Mas para isso é necessário que abandonem as fantasias e os desejos infantis sobre a relação homem/mulher e vejam o parceiro ou a parceira como realmente são.

Além do mais, o final com que todas essas pessoas sonham para sua história de amor é o antigo e já ultrapassado “ser feliz para sempre”. Apesar de ninguém saber direito o que é felicidade, com certeza não é sinônimo de acomodação. Acomodar-se é o mesmo que fazer uma longa viagem no piloto automático ou deixar os controles do carro que se dirige na mão de outra pessoa. É trabalhoso realizar sonhos. Também é difícil conseguir o que se quer. Essa tarefa se torna menos complicada quando se foca nos sentimentos pessoais e nas mudanças internas que são necessárias.

Ficar preso na desilusão porque o outro não é o príncipe ou a princesa encantados fará com que a vida em comum se torne uma espécie de livro de “contas correntes”, no qual serão registrados todos os itens que estão em débito e servirão de provas e armas para os embates que ocorrerão em cada nova frustração. Esse comportamento pode ainda criar um padrão de competição entre os parceiros, no qual cada um se concentra em provar que o outro é pior e o torna mais infeliz. O foco deixa de ser “como posso fazer o outro feliz”, “como posso me aproximar do que o outro deseja”, e se transforma em um jogo de dar menos do que o outro quer, fazer menos do que necessita. E os dois ficam presos nessa roda de infelicidade e frustração.

Enxergar a situação real significa se adaptar às próprias mudanças e às do outro. Rever as próprias escolhas e, assim, abrir as possibilidades de se recasarem. Poder casar muitas vezes com a pessoa com quem se está casado é confirmar que se tem consciência de que são pessoas que mudam com o tempo e com os acontecimentos, e a cada etapa é necessário haver uma nova escolha do outro para ser seu parceiro. Escolha para um novo período. Isso implica um novo contrato,novas descobertas e também novos prazeres.

Para todas essas mudanças e propostas existe um ingrediente indispensável: a receptividade. Estar aberto para receber o outro como ele é, para enxergar o que deseja e o que o faz feliz. Isso muda a direção das preocupações. Se os dois o praticarem, a relação melhorará muito.