A FAMÍLIA COMO CAMINHO
Solange Maria Rosset
Abril de 2002.
A família sempre foi vista e compreendida
como a matriz da identidade do indivíduo. É no seio da família
que a pessoa vai definir seus padrões básicos de funcionamento.
Padrão básico de funcionamento significa a sua forma específica
e repetitiva de ser e de reagir em todas as situações; os mecanismos
que usará para viver e sobreviver; suas escolhas ao compreender e se
relacionar com as pessoas e situações. Este padrão se constrói
no entrelaçamento das relações familiares, através
do que é dito e do que não é dito, das normas explícitas
e das regras que são passadas de forma sutil, nos olhares, nos toques,
nas palavras e atos.
Paralelo ao padrão de funcionamento que
vai construindo o indivíduo vai estruturando a sua auto imagem : quem
ele é, qual seu valor, qual sua potência, quais seus limites.
Assim ela chega na adolescência e depois
na vida adulta com os ônus e os bônus de ter sido criada naquele
sistema familiar específico, com aquele padrão específico.
Nesse momento de vida, a pessoa tem basicamente
dois caminhos a seguir: usa as dificuldades, os traumas, os sofrimentos vividos
e sofridos na infância como uma boa desculpa para suas dificuldades atuais,
e um bom álibi para explicar seus defeitos, suas impossibilidades; ou
usa as dificuldades vividas como um mapa, um sinalizador do que é que
precisa aprender, precisa mudar, em que departamentos da sua vida precisa prestar
mais cuidados e atenção.
A qualidade afetivo/emocional de uma pessoa adulta,
depende do quanto ela se responsabiliza pela sua história futura : ou
seja o quanto ela se dedicará a limpar, perdoar, compreender a carga
que recebeu, e o quanto ela se encarregará em aprimorar-se e tornar-se
um adulto enriquecido pelas experiências da infância, sejam as positivas,
sejam as negativas.
Um mesmo fato traumático poderá
amargurar toda a vida de uma pessoa, ou poderá servir de estímulo
para reconstruir-se e construir novas e saudáveis relações.