A Família Funcional

Solange Maria Rosset

Março de 2011

 

Muito se tem discutido e refletido sobre a importância da família na construção de pessoas saudáveis e maduras. Os fatos divulgados pela mídia, as atrocidades praticadas por pessoas jovens, nos levam a pensar como uma família pode criar indivíduos funcionais e quando é que ela falha nessa tarefa.

Na compreensão relacional sistêmica funcional é um comportamento ou um fato que possibilita aprendizagens, crescimento e movimento, e que é coerente com o contexto de espaço e tempo em que se encontra. Se avaliarmos uma estrutura familiar só sob o ângulo dessa definição de funcional já podemos enxergar como e quando uma família está sendo funcional ou disfuncional na criação dos seus membros.

Tendo em vista a questão de coerência com o contexto de espaço e tempo se conclui que para esta avaliação de funcionalidade não pode haver verdades absolutas, e todos os parâmetros devem ser ajustados à realidade de cada família específica. No entanto, de uma forma geral, existem alguns itens que são importantes na estruturação de uma família que auxilie seus membros a serem mais funcionais – que aprendam, cresçam, sejam autônomos e responsáveis.

Certamente, existem famílias que ajudam mais, e outras que ajudam menos seus membros a crescer como pessoas funcionais. Uma família funcional é aquela que cumpre suas funções básicas de criação e desenvolvimento dos seus membros de uma forma firme e flexível, adaptada às circunstâncias e aos fatos de cada momento e que ajuda a todos a estarem sempre num processo de tomada de consciência, de aprendizagem e de crescimento.

Uma das formas de avaliar a funcionalidade de uma família é avaliando as suas fronteiras. Fronteira é um limite virtual que define quem é e quem não é daquele sistema. No caso da família, essa fronteira deve ser nítida, no sentido de definir quais tarefas e funções dos membros da família devem ser desempenhadas por eles, e por outro lado possibilitar intercâmbio, contato e aprendizagens com outras pessoas de outras famílias ou da família extensa.

Quando as fronteiras dentro da família (casal, filhos, pais) não são bem definidas, é comum ter um filho ocupando uma tarefa ou uma função que não deveria ser sua. Com isso, ele tem seu desenvolvimento perturbado; seu crescimento é impedido; a passagem das etapas, a mudança de funções, a capacidade de exercer atividades criativas ficam alteradas. Por exemplo, uma criança que esteja demasiadamente engajada e comprometida com seus pais, que sejam incapazes de ter suficiente intimidade entre si, está cumprindo funções antinaturais, e seu lugar como filho encontra-se mal definido. Isso vai, no futuro, dificultar que ela se liberte e organize sua vida amorosa, afetiva e sexual, que construa sua própria família. No caso de haver uma não-separação dentro da família e um fechamento com relação ao mundo externo, a família aprisiona seus membros, sem possibilitar o desenvolvimento da autonomia.

Outra forma de avaliar a funcionalidade familiar é verificar se estão desenvolvendo no seu dia a dia as aprendizagens sistêmicas que são imprescindíveis para a criação de indivíduos funcionais e que é na família de origem o melhor lugar para treiná-las.

Algumas dessas aprendizagens são ligadas à:

Este assunto nunca se esgotará, nem os itens discutidos serão os únicos, mas servem para ampliar a reflexão e o trabalho de pais, terapeutas, educadores.