Adoção: desafios a serem superados.*

Solange Maria Rosset

 

A adoção é uma situação familiar e social que traz preocupação, tarefas e aprendizagens para todos os envolvidos. A tarefa dos pais é a mais fácil de enxergar e delimitar tendo em vista que foram eles que tomaram a decisão e se propuseram a dar continuidade à adoção. Seu envolvimento é direto e suas tarefas e aprendizagens são todas aquelas inerentes às funções de serem pais, criarem filhos, tomarem decisões. A família que está envolvida na situação de adoção também está envolvida nas tarefas, sentimentos, aprendizagens da criação de uma nova criança, acrescidas das questões específicas da adoção e da proximidade que têm com os pais. Os terapeutas que se encontram próximos também estarão com seus sentimentos, suas tarefas e suas aprendizagens sendo desenvolvidas, além das suas funções de auxiliar os pais e a família a lidarem da forma mais funcional possível com a criação dos filhos e com a adoção.

No entanto, todos estes envolvidos podem transformar a situação da adoção num pandemônio, criando problemas e conflitos em situações rotineiras, problematizando questões simples, dificultando o entrosamento entre as pessoas. Está na mãe de cada um e de todos os envolvidos se esforçar e auxiliar cada um dos outros para que o fato da adoção, a criação das crianças, a solução das dificuldades sejam encaminhados de forma funcional sem serem transformados em problemas, de forma que os desafios possam ser superados e possam servir de estímulo e aprendizagem.

A seguir, alguns desses desafios.

Aceitar os limites e impotências; os sentimentos contraditórios; a criança real – Certamente esta é uma das maiores dificuldades, aceitar os dados de realidade. O casal aceitar suas impotências e limites – que não conseguiu gestar, que não conseguiu parir, que têm dificuldades para entender e lidar com aquela criança – bem como aceitar os sentimentos contraditórios que assolam aos pais e à família inevitavelmente – amor e desamor, aceitação e rejeição, culpa e mágoa- e aceitarem e lidarem com a criança real – que chora, que não é tão bonitinha nem perfeitinha, que não é tão inteligente ou obediente, que não se parece com eles. São aspectos que precisam ser trabalhados e aceitos quando se tem um filho biológico e também um filho adotivo.

Não problematizar a adoção -  preparar-se para ver e lidar com a adoção como sendo só um fato  a mais na vida da família e na vida da criança ajuda a minimizar problemas e prevenir dificuldades. Assumir a responsabilidade pelas decisões, pelas dificuldades pelas incompetências sem culpar os outros nem a si mesmo, sem fugir das conseqüências faz com que as dificuldades sejam resolvidas no momento que surjam e antes que virem problema. Outra forma de evitar problemas é não esconder a adoção mas não expô-la desnecessariamente abrindo intimidades e correndo o risco de criar mágoas e mal entendidos sem necessidade.

Exercer as funções parentais- toda criança precisa, para crescer saudavelmente e se tornar um adulto útil e tranqüilo receber os cuidados das funções parentais adequadas à sua idade e à sua competência. Deixar de cumprir essas funções – por receio de criticas, por dificuldades pessoais, ou por qualquer outra razão – vai levar a criança a se sentir menos amada, desatendida, carente de atenção e cuidados. E assim crescerá sem as aprendizagens que não realizou e sem modelo de como desempenhar essas funções no futuro. As funções parentais básicas são: nutrir, conter, orientar, dar limites, dar autonomia, dar responsabilidade.

Possibilitar que a criança - tenha dados para  poder acompanhar a história da sua adoção, possibilita que ela se sinta com raízes, com história com passado, presente e projetos de futuro; possa falar sobre sua condição de filho e adotado sem rodeis e sem se sentir obrigada a isso.

Não depositar na adoção as dificuldades que tiverem com as crianças – criar filhos é uma tarefa difícil, sem manual e sem garantia de que vai dar certo. O que sair do previsto, o que der errado deve ser avaliado e analisado a partir das pessoas envolvidas dos padrões de funcionamento adotados e jamais delegados à situação de adoção ou à situação da família biológica.

*Texto escrito a partir da Mesa Redonda Saúde Mental Infância e Adolescência, na Quartas Feiras no CRP , 17/10/12, no Conselho Regional de Psicologia, Curitiba PR