Aprender nas relações
Solange Maria Rosset
Julho de 2020
Sendo o ser humano um organismo em constante contato com os outros, o espaço privilegiado das aprendizagens é nas relações. É com o outro que se aprende as questões fundamentais da vida, é com o outro que aparece o que cada um tem de melhor e de pior, e, portanto o que precisa ser desenvolvido e aprimorado.
Todas as aprendizagens importantes dependem da relação com o outro para se desencadearem: colocar limites, respeitar limites; dar e receber afeto, informações, carinho, alimento; rejeitar e ser rejeitado; conceder e pedir favores; respeitar diferenças e mudanças; lidar com a presença e com a solidão.
No entanto, para aprender é necessário ter humildade para assumir que lhe falta algo. Humildade é a disponibilidade para enxergar sua real condição, seu melhor e seu pior, sem a vaidade e sem a vergonha, mas com a clareza e paz de espírito. E essa condição é indispensável para que o indivíduo se abra para receber o novo. É necessário que ele assuma que lhe falta algo para realmente abrir-se para aprendizagem.
Ao mesmo tempo, outros aspectos merecem importantes reflexões para que a aprendizagem se desenvolva no espaço relacional:
- Respeito pelo ritmo de aprendizagem - De todos os comportamentos importantes quando se acompanha a aprendizagem de alguém, e um dos mais difíceis, é o respeito pelo ritmo de aprendizagem do outro. Principalmente quando esse ritmo é diferente do nosso ou diferente do que se tinha a expectativa. No entanto o respeito pelo ritmo do outro no processo de aprendizagem é condição para que ele aprenda com tranquilidade e autoestima.
Tempos da aprendizagem – A aprendizagem, sendo um processo, só se completa respeitando os tempos necessários para cada uma das suas etapas.
- Tem um tempo de aprender – receber as novas informações, novas experiências, abrir-se para o novo; tem um tempo de processar- para integrar com o que já existia, para verificar o que vai ficar e o que é dispensável, para identificar a semelhança com o antigo; e tem um tempo para colocar para fora – para produzir, para mostrar o que aconteceu na integração do novo com o antigo, para prover, para usar o que aprendeu para o bem e o cuidado com o outro.
- Aprendizagem funciona como uma espiral - O processo de aprendizagem se realiza num movimento de ida em busca do novo, e um retorno ao conhecido para que novo e antigo se integrem e se transformem numa real aprendizagem. O novo só se concretiza ao integrar-se ao já conhecido.
- O movimento de ida para os extremos - Muitas vezes no processo de aprendizagem, é necessário ir para os extremos para só depois chegar ao caminho do meio. Isso ocorre, quando os comportamentos e conceitos antigos são ou estão muito arraigados, e que para que haja uma mudança, um espaço para algo novo necessita de muita energia, muita força para mobilizar. Esse aumento de energia pode levar ao comportamento oposto, no outro extremo. A experiência do extremo oposto ajuda a se chegar ao meio termo, e é só uma etapa do processo.