Bons contratos familiares

Solange Maria Rosset

março de 2022

 

Muitas das dificuldades familiares – entre pais e filhos, entre cônjuges, entre pais – poderiam ser prevenidas e resolvidas se os membros da família soubessem a importância e fizessem contratos funcionais.

Um casal saudável tem contratos concretos e explícitos e se esforça para elucidar e transformar os acordos implícitos, velados, não comunicados, assim que são percebidos. Se ao perceber que tem um assunto ou uma área do relacionamento que está acontecendo sem que tenham conversado e acordado as regras, é urgente parar para avaliar. É muito comum que, por medo de brigas ou de desagradar o parceiro os itens no relacionamento que não gostam ficam escondidos e não conversados. Com o tempo, muitas coisas vão sendo deixadas de lado, as expectativas aumentam e as mágoas e frustrações vão se avolumando. E, inevitavelmente, não vão saber ou poder fazer bons contratos com os filhos.

Uma das situações mais comuns é a dos pais, que colocam castigos em prática quando os filhos fazem algo que lhe desagrada muito, sem antes terem combinado e definido as sanções. Isso acontece por inabilidade em fazer contratos, pela expectativa fantasiosa de que os filhos farão o que eles esperam, por dificuldades pessoais, ou por comportamentos realmente complicados dos filhos. Se este é o caso, uma das possibilidades de fazer diferente é, fora da hora de crise, todos os envolvidos, sentarem juntos e definirem o que farão com relação ao tal assunto. Depois que aprenderem a fazer ficará cada vez mais fácil.
Um bom contrato explicita o que deve acontecer, como deve acontecer, quando deve acontecer, como os envolvidos devem se comportar, o que acontecerá se uma das partes quebrar as regras e, principalmente, como podem reavaliar o contrato. 

Para ser um contrato funcional todas as partes da relação devem se colocar – seus incômodos, desejos, necessidades e dificuldades – e negociarem todos os aspectos até ficar claro e estarem de acordo. Os pais tem um lugar hierarquicamente superior aos filhos, pois têm tarefas e funções de criação e educação da prole; e por isso cabe a eles colocarem os itens de como gostariam/querem que o filho funcione/se comporte. A partir disso, os filhos colocarão suas argumentações. E então discutem e avaliam cada situação, definindo também quais serão as sanções se o contrato não for cumprido. Também é importante definirem quando e como farão a avaliação e redefinição desse contrato.

Quando as regras e definições estão claras e acordadas fica mais fácil lidar com as situações, pois todos sabem o que acontecerá se o contrato for rompido. As relações ficam mais claras e todos aprendem a se responsabilizar pelas situações.

Algumas vezes as emoções dos pais que entram no jogo, suas questões quando eram filhos; guerra entre pai e mão; coisas não resolvidas entre o casal que vem a tona; suas dificuldades em cumprirem seus próprios contratos, entre outras. Nesse caso, é muito importante que os pais definam antes os itens e só depois que estiverem de acordo reúnem com os filhos para fazem o contrato.

Pode parecer difícil a principio, principalmente para aqueles que nunca pensaram em contratos relacionais, que deixam as coisas irem acontecendo; mas, assim que compreenderem e colocarem em prática verão que a qualidade do relacionamento familiar irá melhorar e poderão até discutir e brigar mas o foco de terem uma relação clara e funcional só trará ganhos para pais e filhos.