Casal atento às lições do dia a dia crescem juntos e vivem mais felizes

Solange Maria Rosset

 

A vida a dois oferece muitas oportunidades de aprendizado e crescimento, tanto para os casais, em conjunto, como para cada parceiro, individualmente. Para aproveitá-las, porém, é preciso estar disponível e atento à própria maneira de ser e às indicações que são emitidas pelo outro. O conhecimento adquirido ajuda bastante a prevenir dissabores e fortalece o relacionamento.

 

A relação de casal possibilita que os envolvidos aprendam sempre. Se os dois estiverem dispostos a se envolver nesse processo de crescimento, com consciência e decisão, ele pode ser até prazeroso. Mas é possível também vivenciá-lo individualmente, inclusive sem que o parceiro saiba.

Algumas situações muito propícias para adquirir novos conhecimentos sobre si mesmo e sobre o outro são aquelas em que temos de lidar com a diferença entre as necessidades e os desejos de cada um. Exemplo: um quer estar com o outro justamente quando este tem compromissos ou simplesmente quer fazer outra coisa. Nessa hora é possível aprender: 1) a explicitar o próprio desejo de forma clara; 2) a dizer não de forma objetiva, porém amorosa; 3) a lidar com a frustração do desejo não realizado; 4) a frustrar o outro, sem culpa, eventualmente.

Se seu parceiro simplesmente não quer algo que você propõe, pense, portanto, em praticar o exercício de enxergar as diferenças entre vocês dois. Procure lidar com o desapontamento de não ser atendido, sem apelar para birras ou sentimento de rejeição desnecessário. E tente aproveitar a situação como um incentivo para acostumar-se a fazer sozinho as atividades que lhe agradam.

Estar preparado para ouvir um “não posso” ou “não quero” é sinal de parceria e maturidade. As pessoas que escolhem um parceiro para serem cuidadas, poupadas ou providas, não se sentirão bem com a negativa do outro, pois “ouvirão” mais do que a simples negativa. O não terá o significado de rejeição, descuido ou maldade.

Saber ouvir um não sem sofrimento é uma capacidade que depende da autoestima da pessoa envolvida e da saúde da relação. Para aceitar que o outro não quer ou não pode realizar o seu desejo é preciso que você acredite ser autosuficiente para suprir suas próprias necessidades, que saiba que pode existir sem o parceiro, ainda que o considere importante. Por outro lado, também precisa saber avaliar o momento do outro e da união. Compreender se ele está ocupado ou preocupado com alguma coisa e respeitar seu direito de não estar interessado no que lhe é proposto – sem pensar que se trata de maldade ou desamor.

Saber ler os sinais que partem do outro previne dissabores. Quando as pessoas estão muito próximas, dividem espaço e/ou projetos, correm o risco de não prestar atenção às mensagens não verbais que enviam e recebem. Essas mensagens são preciosas. É importante  saber decodificá-las. Após um tempo, um saberá quais são os melhores momentos e as melhores formas de fazer pedidos ou propostas ao outro, aumentando muito as chances de ser bem recebido e obter respostas positivas. Quando se presta atenção nas reações do parceiro, aprende-se a ver em si próprio atitudes e maneiras de se expressar que o incomodam – e pode-se evitá-las. Aprende-se, ainda, a observar aquilo que, em seu próprio modo de ser, agrada ao parceiro. São trunfos, informações que tornam a convivência muito mais fácil, se usadas com critério e generosidade para consigo e para com o outro, em lugar de irritação e intolerância. Ajudam a evitar dissabores, colaboram com o amadurecimento do casal e fortalecem a relação. Acima de tudo, a disposição de atentar para elas pode ser um elemento de aprendizagem – e crescimento – individual.

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 886 de 29/10/2010