Casal nas novas configurações familiares

Solange Maria Rosset*

 

As complicações emocionais e funcionais de famílias que fogem ao modelo tradicional podem interferir no relacionamento. Para enfrentá-las, é preciso que os cônjuges reservem um tempo exclusivo para si, de modo a reforçar os laços e preservar a intimidade. A união, somada a uma boa dose de flexibilidade, ajuda a  conviver com as ansiedades geradas por relações que não estão consolidadas. 

 

A família sofreu muitas mudanças nas últimas décadas. Hoje encontramos configurações variadas e bem diferentes da tradicional, o que gera dúvidas em todos envolvidos sobre os modos mais adequados de agir em determinadas situações. Essas questões interferem profundamente nas relações de casal. 

Relativamente comum, por exemplo, é que um dos parceiros tenha sido o único responsável durante muito tempo pela gestão dos filhos e da família anterior. Ao iniciar o novo relacionamento fica difícil para essa pessoa aceitar o envolvimento do novo parceiro nas decisões familiares. Ela precisará ter muita disponibilidade para rever valores, conceitos e costumes e aprender a compartilhar as decisões. Aquele que que está chegando, por sua vez, precisará se esforçar para compreender as razões e motivações que geravam as decisões no antigo núcleo familiar do companheiro ou companheira. Havendo colaboração, um poderá aprender com outro e ambos irão compartilhar dificuldades e decisões, sem cair na crítica, na defesa ou no ataque.

Outra situação que gera ansiedade para os cônjuges é aquela em que existe agregamento de muitos sub-grupos cujos membros fazem parte de outras famílias. Não falo do já quase tradicional “os meus, os seus, os  nossos”, mas de casos como o de crianças que após a segunda separação do pai ficaram morando com a madrasta ou de conformações até mais complicadas.

Sejam quais forem os formatos das novas famílias, o foco do casal deverá ser sempre possibilitar que as tarefas e funções parentais sejam desempenhadas de forma adequada para o desenvolvimento físico e emocional das crianças e adolescentes. No entanto, não se pode esquecer que os filhos vêm e vão. Para manter a relação viva no decorrer desse processo é necessário que o casal preserve espaço e tempo exclusivos para ele. Assim poderá namorar, se divertir, discutir seus problemas e planos e também trocar impressões, sentimentos e dificuldades em relação à família. Isso evita que se caia numa rotina desgastante de críticas e queixas e permite que os dois possam descobrir juntos as melhores soluções para os impasses que surjam.

O ideal é que as decisões com relação à família sejam do casal, de comum acordo. Somente depois que a sua posição estiver definida sobre uma determinada situação é que os demais  envolvidos deverão ser informados. Agindo assim, a dupla se sentirá – e de fato estará – fortalecida e unida. E ficará afastado o risco de, descuidadamente, um se contrapor ao outro, rivalizando ou combatendo entre si.

Um casal unido certamente lidará melhor com situações delicadas – como o contato com ex-cônjuges e suas respectivas famílias, definições de visitas e questões ligadas a dinheiro – e irá agir de forma a cumprir todas as necessidades das funções parentais, das questões de pertencimento, de identidade e de lealdade, de modo que ninguém se sinta lesado, traído ou roubado. Mas isso só se consegue, porém, se houver aceitação do novo modelo familiar, consciência dos sentimentos e dos preconceitos envolvidos e, mais que tudo, flexibilidade. O desafio é grande, porém não impossível de ser enfrentado. Basta ter criatividade e disposição para possibilitar as mudanças e os arranjos necessários na gestão da família e na intimidade do casal.