Como lidar com erros na relação do casal

Solange Maria Rosset

Julho de 2018

 

Dizem que “errar é humano”, mas, no relacionamento de casal, poderíamos acrescentar, que além de humano, é um bom caminho para enxergar realmente o funcionamento dos parceiros. A forma como o casal lida com erros mostra com muita clareza qual é o padrão básico do seu relacionamento, e aponta também para as dificuldades que têm e as aprendizagens que podem realizar, tanto no espaço de casal, como individualmente.

Admitir um erro é uma forma de ser honesto consigo mesmo e com o outro; admitir um erro para o parceiro conjugal traz à tona os medos, as competições, as competências dos dois envolvidos. Algumas pessoas aprenderam que reconhecer um erro é humilhante, e o medo da humilhação fica mais forte quando o parceiro aponta o erro sem ter cuidados. No entanto, se ao enxergar um erro a pessoa souber admiti-lo e pedir desculpas, estará sendo humilde, e abrirá muitas possibilidades de aprendizagens e flexibilizações. Reconhecer o erro, pedir perdão e procurar remediar o que fizeram de errado, com o propósito de não repeti-lo é um exercício de parceria e intimidade. Agindo assim, os erros e quedas serão alavancas para o amadurecimento e crescimento. Quando têm a coragem de pedir perdão, vencendo o orgulho e o preconceito, eliminam quase de vez os motivos dos conflitos no relacionamento, e a paz pode retornar.

Outro aspecto interessante é com relação ao jeito que os parceiros usam para corrigir um ao outro. Novamente, a forma pode ser muito construtiva ou afastar de vez a possibilidade de aprendizagem e de desenvolvimento da intimidade. Se for inevitável chamar a atenção, fazê-lo com amor é uma boa proposta, mas dificilmente posta em prática entre os casais. Muitos dizem que a crítica é construtiva; mas, muitas vezes, com essa desculpa as pessoas se ferem de modo que não tem mais conserto. A critica “construtiva” é amorosa, sem acusações e condenações. Desta forma, a critica possibilita que o outro enxergue seus atos, mas sinta que a critica é para o erro cometido, e não para ele como um todo ou pra ele como pessoa. Antes de apontar um defeito, é sempre aconselhável pensar nas qualidades do outro. Isso funciona como um exercício de equilibrar a balança, e não errar a mão na crítica.

Um casal que tem como base do relacionamento a competição pode apontar o erro com satisfação por estar aparecendo o pior do outro e sentir que ganhou este “round”; só que na maioria das vezes, nesse jogo de rivalidade, o outro, ao invés de ouvir e fazer bom uso da informação, gastará toda sua atenção e energia para lembrar dos erros daquele que está criticando. E a fala de um desencadeará uma pior fala do outro, e assim por diante.

A história dos membros do par, pode mostrar como foi a experiência pessoal de cada um deles com relação aos erros e ao que se faz quando erra e quando enxerga o erro do parceiro. Pessoas criadas em famílias muito rígidas, com valores muito estritos, podem ter dificuldades de lidar de forma leve e amorosa quando a questão é errar ou ser descoberto no erro. Mas por outro lado, essas pessoas são as que mais podem aprender e flexibilizar.

Se o casal compreender a importância de aprimorar o relacionamento através dos erros, pode, em momentos de paz e de avaliação da relação, combinar formas de se ajudarem nesse departamento de erros cometidos, de forma que tenha espaço relacional para um corrigir o outro realmente de forma construtiva, e cada um dos envolvidos possa usar as informações recebidas para aprender e evoluir. A relação só lucrará com isso, se aprofundando.

*Texto publicado na Coluna Amor da revista Caras, edição 1289 de 2/07/2018