Contratos e relacionamento de casal*

Solange Maria Rosset

novembro de 2017

 

É muito comum que quando um casal inicia um relacionamento, vá acertando as formas de se relacionar e as regras dessa relação aos poucos. O número de pessoas que vão ficando juntos na casa de um ou do outro, que vão aos poucos deixando seus pertences, ocupando um espaço, até que decidem morar juntos sem combinarem como será essa convivência é cada dia maior, nos últimos tempos. Inclusive, muitos se casam, assumem compromissos econômicos e sociais sem fazerem um contrato de relacionamento; muitos se separam sem fazer um contrato de relacionamento; muitos retornam a relação sem contratarem como vai ser. Os acertos que vão sendo feitos no desenrolar do relacionamento acontecem de acordo com os acontecimentos e as necessidades. Alguns itens são intencionais, outros vão surgindo de acordo com as situações, alguns são formalmente contratados, outros são subliminares e implícitos. Mas, um contrato não é realizado. Quando a maioria dos acertos entre o casal é implícita impede que os incômodos e quebras de contrato sejam colocados e os ajustes sejam renegociados.

O casal pode e deve fazer seu contrato o mais explícito possível, e refazê-lo quando perder o efeito, ou mudarem de fase da relação. Assim,  poderão discutir e definir, aceitar ou negociar, ceder ou bancar como funcionarão em temas básicos da convivência - como lidar com a roupa suja, que comida farão, horários, despesas, tarefas -  e também em temas difíceis -fidelidade, relação com as famílias e com amigos, dinheiro, sexualidade.

Um casal saudável tem contratos concretos e explícitos e se esforça para elucidar e transformar os acordos implícitos, velados, não comunicados, assim que são percebidos. Se ao perceber que tem um assunto ou uma área do relacionamento que está acontecendo sem que tenham conversado e acordado as regras, é urgente parar para avaliar. É muito comum que, por medo de brigas ou de desagradar o parceiro os itens no relacionamento que não gostam ficam escondidos e não conversados. Com o tempo, muitas coisas vão sendo deixadas de lado, as expectativas aumentam e as mágoas e frustrações vão se avolumando.

Um bom contrato explicita o que deve acontecer, como deve acontecer, quando deve acontecer, como os envolvidos devem se comportar, o que acontecerá se uma das partes quebrar as regras e, principalmente, como podem reavaliar o contrato.  Mas não se deve esquecer que, para ser um contrato funcional as duas partes da relação devem se colocar – seus incômodos, desejos, necessidades e dificuldades – e negociarem todos os aspectos até ficar claro e estarem de acordo. E, claro, em alguns momentos é necessário fazer algumas concessões, aceitar alguma negociação.

Quando ocorre uma separação, mais importante se torna fazer um bom contrato – explicito, claro, e com todos os itens necessários avaliados. Principalmente se existem filhos comuns. Muitas dores e dificuldades podem ser evitadas.

À primeira vista, pode parecer impossível colocar todos os itens de uma convivência num contrato relacional entre parceiros conjugais, mas aqueles que tentam relacionam vantagens quando se tem algo mais consciente e explícito.

*Texto publicado na Coluna Amor da revista Caras, edição 1253 de 10/11/2017.