CO-TERAPIA

Solange Maria Rosset

Agosto de 2000.

 

1. 1. Histórico da co-terapia

 

     Remonta ao início dos trabalhos psicoterapêuticos.
     A equipe de observação terapêutica não existiam formalmente até que a equipe de Milão começou a experimentar o seu modelo de quatro pessoas. Os terapeutas atrás do espelho serviam para contrabalançar os dois que estavam na sala com a família. Os participantes das duplas faziam rodízios de casos, mas sempre era um terapeuta masculino e um feminino, relembrando a idéia do antigo modelo de papéis de co-terapia conjugal.

 

2. Dificuldades e riscos da co-terapia

     - O tratamento da família por dois co-terapeutas faz a conversação ser mais pública e mais complexo o processo empático. Ambos os terapeutas devem não somente compenetrar-se com a família e com cada um dos seus membros, mas também devem estar atentos com o que ocorre dentro do outro terapeuta.
     - Grandes semelhanças com relação a personalidade ou a origem familiar de ambos os terapeutas acabam atrapalhando, porque os problemas de contratransferência que surgem podem muitas vezes ficarem sem serem descobertas. ( homogenização)
     - Um dos maiores problemas com a equipe terapêutica tem sido o do manejo dos conflitos e dos problemas de poder. Enterrar as diferenças e forçar um consenso não é a solução, pois isto levaria apenas a um descontentamento oculto. Estar em uma equipe pode ser estimulante e criativo, mas pode também ser difícil e confuso.
     - Se você está em sessão trabalhando com uma hipótese e subitamente o outro terapeuta entra, com uma diferente, você ou a família podem ficar doidos.

 

3. Vantagens e objetivos da co-terapia

     - Quando só com um terapeuta o trabalho não está rendendo. Só um terapeuta não enxerga tudo o que acontece, e tem o risco de entrar no funcionamento da família, e de entrar na doença energética da família. Então uma das hipóteses é trazer um co-terapeuta ( outra é fazer terapia com subsistemas).
     - No trabalho com famílias, para tornar um trabalho mais eficiente , mais rápido.
     - A co-terapia, principalmente com um terapeuta feminino e outro masculino, tem mostrado êxito quando o problema da família consiste em conflitos relacionais duradouros entre os cônjuges. Nestes casos a forma de se tratarem e a conduta dos co-terapeutas entre si pode tornar-se um modelo muito importante, com o qual os cônjuges podem orientar-se. Temos comprovado a conveniência de que em cada entrevista um dos terapeutas tenha a responsabilidade principal, enquanto o outro apoia e completa as intervenções e agrega , quando necessário, ulteriores pontos de vista.
     - A co-terapia é necessária quando se trabalha com esquizofrênicos ou com suas famílias. Para que o terapeuta possa ir além do tratamento de um neurótico e esteja em condições de tratar o esquizofrênico, o psicótico de ambulatório ou pacientes geriátricos com psicose, ou de tratar casais, grupos ou famílias, necessita mais do que a competência técnica usual e mais do que o montante usual de interesse humano.
     - A co-terapia entrona a família e destrona o supervisor. A família se possui a si mesma e aos terapeutas, o que reduz as probabilidades de que os terapeutas sejam apanhados pelas suas batalhas fora das horas de terapia.A administração de um caso é negociada entre os terapeutas e ensinada no processo de tratamento. A família provavelmente criticará os co-terapeutas, arriscando-se a atacar um deles e reservando cuidadosamente o outro para manter a estabilidade da terapia. Sem o par esta retroalimentação seria menos provável.
     - Para um terapeuta, o uso de co-terapeutas não apenas amplia dramaticamente o âmbito da técnica terap6eutica, como também provoca um crescimento de ambos os terapeutas. Este tipo de crescimento é muito importante durante o treinamento inicial e mais importante para a manutenção do terapeuta profissional.
     - Para alguns teóricos da terapia sistêmica único pré requisito para a equipe terapêutica parecia ser que ela preenchesse, de alguma forma, a versão da idéia de Bateson a respeito da visão binocular. Se fosse possível que uma pessoa estivesse imersa na família e outra observando-a - uma que se encostasse na janela e outra que se sentisse aos seus pés -, poder-se-ia alcançar uma dimensão mais profunda.

 

4. Cuidados necessários

     - Que haja uma sintonia entre os dois . Por isso devem conhecer-se à fundo. Sobretudo devem respeitar-se o suficiente para não atrapalhar a cooperação com uma rivalidade encoberta O mais óbvio é escolher um psicoterapeuta que seja pessoalmente compatível e cujo treinamento e personalidade sejam complementares a sua própria.
     - Um bom contrato - claro e explícito
     - Mesma formação. É essencial que coincidam em sua orientação teórica . A compatibilidade não é um requisito para o uso da co-terapia, entretanto, há algumas pessoas com quem a co-terapia resulta muito difícil. Deve-se conhecer e dominar a mesma teoria.Isto parece ter mais a ver com uma diferença de visões filosóficas da vida, do que com diferenças técnicas a respeito do tratamento.
     - Avaliação constante
     - Cuidar para não cair na homogenização
     - Ajuda para crescerem e se sentirem bem juntos. É necessário que cada um conheça o estilo e a maneira de se relacionar do outro
     - Estarem na mesma supervisão
     - É conveniente que os terapeutas se complementem em suas personalidades, estilo de relação e origem familiar. A forma de ser diferente dos terapeutas não são prejudiciais quando se pode percebê-las, levar em conta e eventualmente discutir durante a sessão na presença da família. Em todos os casos deve-se ter uma conversa posterior, na qual se possam elucidar eventuais conflitos surgidos entre os co-terapeutas.
     - No início o relacionamento dos co-terapeutas pode ser semelhante ao de uma família pseudomutual. Após a primeira briga realizada na frente do paciente ou do casal, os co-terapeutas poderão estabelecer uma interação respeitosa, mas pessoal que não carece de grande intimidade ou mesmo profunda compatibilidade fora da sessão.
     - A co-terapia pode ser um caso de tempo limitado. Entretanto resulta mais proveitoso se se trata de um co-terapeuta acessível com quem, aos poucos, o caso se torna mais duradouro. É preciso reconhecer que qualquer par de terapeutas pode trabalhar junto, mas, também, que existe a possibilidade de que sejam falsos um com o outro, portanto, de pouca ajuda para o paciente.
     - Quando se fala de co-terapia é comum considerar que os co-terapeutas compartem exatamente as mesmas atribuições e responsabilidades, e o que é fundamental, o mesmo papel com uma simples alternância na condução da tarefa. Esta seria uma co-terapia de estrutura horizontal ( diferenciando da situação de Diretor e Ego auxiliar no Psicodrama).
     - As funções de ambos devem estar bem definidas, de forma a estabelecer uma relação complementar saudável sem competições ou rivalidades frente ao grupo.
     - É obvio que é preferível que o co-terapeuta tenha uma estrutura profissional equivalente e que respeite seu colega. Sempre que exista respeito humano entre ambos, trabalhar em co-terapia será melhor que trabalhar sozinho.

 

5. Aspectos que auxiliam

     - Confiança
     - Respeito
     - Humildade

 

6. Diferenças entre:

     - Co-terapia e observador
     - Co-terapia e supervisor no espelho
     - Co-terapia e consultor

 

7. Formas de trabalho em co-terapia

     É possível trabalhar de muitas formas em co-terapia.
     - Se um terapeuta está formulando as questões, o outro pode escutar para identificar que tipo de hipótese está querendo explorar seu co-terapeuta. Quando ele acha que entendeu a hipótese do seu parceiro, pode ou não fazer suas próprias perguntas.
     - Ou um terapeuta pode conduzir a sessão até que não tenha mais idéias, momento em que o outro terapeuta assume a direção.
     - Co-terapia ao iniciar novos trabalhos
     - Co-terapia para tratar cartolas ou quando outros terapeutas falharam.
     - Segundo terapeuta como consultor em um processo terapêutico em andamento (Ex.) entra na Segunda sessão ou em momentos cruciais.
     - Segundo terapeuta entra quando passa de sessão de casal para sessão de família.
     - A co-terapia é um relacionamento igualitário entre dois terapeutas que trabalham conjuntamente com a família. Compara-se a co-terapia a um casamento profissional, cabendo aos pais a tarefa de educar os membros da família para se tornarem íntimos e autônomos. A co-terapia consiste portanto, em um relacionamento profissional para tratar um relacionamento familiar. A natureza da interação de ambos os sistemas permite uma oportunidade para se compor, espelhar e formar alianças do que outros papéis profissionais.
     - O relacionamento entre os terapeutas também pode se tornar o terceiro polo entre a família e o sistema terapêutico. A experiência interna do casamento da co-terapia - tumultuoso, hierárquico, confuso ou desesperado - pode proporcionar um ponto de apoio para se entender e/ou desafiar as rígidas seqüências complementares que envolvem os terapeutas. Além disso, um co-terapeuta pode assumir uma distância psicológica em uma entrevista, enquanto a sessão está sendo facilitada pelo parceiro. Dessa maneira, as habilidades "Nós" da equipe da co-terapia estimulam a liberdade de se experimentar uma perspectiva mais clara da posição "Eu". Desse modo a co-terapia compõe um relacionamento simbólico que promove maior intimidade e diferenciação.

 

Texto organizado para servir como roteiro de aula.

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