Crises do Casamento

Solange Maria Rosset

 

Todo casamento tem crises específicas, mas existem as que são comuns a todos eles. Ocorrem em função de mudanças e passagens pelos ciclos de desenvolvimento da família e pela aprendizagem que é necessária em cada fase. Parte das crises é previsível.

* Crises na estruturação estável do casal. É a etapa em que o par deixará de ser duas pessoas que estão juntas e passará a sentir-se e mostrar-se como um casal. As relações com as famílias e os amigos precisam sofrer alterações.  As tarefas do momento são as ligadas a que tipo de casal serão, que atividades  desempenharão, qual contrato vão definir. A fase requer muitas negociações, tanto das questões do casal, como das ligadas às famílias, aos amigos e ao trabalho.

* Crises na estruturação e na produção da família. Incluem o nascimento dos filhos e a organização de uma vida familiar e de casal. Traz a necessidade de fazer ajustes com o objetivo de criar espaço às crianças e dividir tarefas domésticas, financeiras e de educação dos filhos.

* Crises da meia-idade. O casal não tem mais a mesma preocupação com a manutenção da prole e as questões profissionais. Os filhos saem de casa e os dois podem voltar a dar maior atenção à união. É a época de avaliação do que já fizeram, sabendo que ainda há a possibilidade de redefinições e novas escolhas. É importante saberem que ainda existe tempo para quase tudo que desejem e é possível reorganizar os projetos de vida e retomar prazeres e objetivos adiados ou abandonados.

* Crises ligadas à velhice. O maior problema é aceitar as mudanças individuais e do casal que se fazem necessárias em face do declínio fisiológico. Pode ser um momento especial de revisão e integração da vida e das escolhas.

Além das crises previsíveis, pode haver outras.

* Crescimento desproporcional dos cônjuges. Um dos dois às vezes se desenvolve mais do que o outro. Isso ocorre por questões profissionais, de oportunidades ou de características pessoais. Parceiros podem usar as diferenças como estímulo para crescer e aprender ou deixar que sejam motivo para afastamento.

* Acidentes com os filhos. Casais que driblam diferenças e dificuldades de forma constante podem entrar em crise quando se deparam com acidentes ou dificuldades importantes com um filho. Por ser uma relação vital e os pais viverem situações de impotência, insegurança, falta de lucidez, as dificuldades do casal, antes tão bem escondidas, aparecem.

* Acidentes com um dos cônjuges. No momento em que um dos membros do casal passa por dificuldades e precisa de cuidados, vem uma fase difícil, em que o carinho, a compreensão e a paciência serão colocados à prova. A necessidade de um ser cuidado e do outro cuidar, de um assumir sozinho tarefas e compromissos, às vezes traz à tona carências e queixas escondidas. Existe o risco de o casal se perder no emaranhado de críticas, cobranças e mágoas.

* Mortes e perdas de emprego e financeiras. Cada parceiro terá sua forma de lidar com perdas. Eles podem piorar a situação ao entrarem numa competição, alegando que seu modo de sofrer e de lidar é a melhor. Quando existe mágoa e culpabilização do parceiro pela perda, a situação ficará mais traumática.

* Quebras de contrato. Acontece quando um dos cônjuges deixa de fazer o combinado. Pode ocorrer intencionalmente ou pelas mudanças da vida. Saber que o acerto que foi rompido pode ser refeito ajuda a negociar e evitar que a crise seja intransponível. O casal precisará lidar com a perda e o resgate de confiança para que possa explicitar todos os ângulos da situação e negociar novos contratos.

Quanto antes o casal perceber os ciclos e as crises de seu casamento, mais chance terá de evitar que gerem desencontro e afastamento. Tais fatos freqüentemente servem também de estímulo para a reavaliação da união, trazendo novo ânimo para descobertas e mudanças. Se os dois enfrentarem as crises unidos, a relação sairá fortalecida.

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 667 de 18/8/2006.