Descartabilidade das Relações
Solange Maria Rosset
Abril de 2011
Quando o assunto é a rapidez e facilidade com que as pessoas mudam de parceiros, usualmente o tom é de critica. No entanto muitas razões existem para que as pessoas, hoje em dia, não fiquem nos relacionamentos, e estejam sempre buscando novas pessoas para terem um relacionamento amoroso.
A permissão social para desfazer relações é uma situação do tempos atuais. As mudanças de parceria amorosa não causam mais o mal estar que causava antigamente. As famílias não mais rejeitam as pessoas descasadas ou que romperam relações intimas, e em todos os espaços sociais têm pessoas que não ficam muito tempo nos relacionamentos. Paralelo à melhor aceitação familiar e social aparece a questão de que as pessoas não mais se submetem a um relacionamento destrutivo ou sem prazer e harmonia só para estarem acompanhadas. As pessoas se sentem seguras para romperem relações que não estão sendo boas, e se sentem capazes de viverem sozinhas.
Por outro lado, as condições de vida e educação deixaram os jovens com um baixo nível de resistência às frustrações. Se algo não está correndo bem, acham mais fácil romperem e partirem para buscar outra relação ao invés de se esforçarem para reformular e recontratar a relação atual. Esperam ter suas necessidades supridas no relacionamento, e quando isso não acontece, não param para avaliar suas deficiências, suas responsabilidades. Ao invés de mudarem internamente mudam de relacionamento. Ao buscar um envolvimento amoroso para ter, receber, usufruir, ser cuidado e amparado, tais pessoas não enxergam a relação como um espaço de aprendizagem e aprimoramento.
A relação amorosa é onde a pessoa se encontra mais nua e vulnerável, é a relação mais intima que se tem, é onde aparece o melhor e o pior da pessoa. Por estas características é o lugar que pode possibilitar que os envolvidos tenham mais condições de se enxergar, de ver como reagem às coisas boas e ruins, como desencadeiam o melhor ou o pior do outro. É onde aparece o que cada um precisa aprender: seja expressar-se, seja conter-se, seja ceder, seja se posicionar.
Relações que não deram certo são pistas importantes para aprendizagens que podem ser realizadas no próximo relacionamento. Assim como, ao se relacionar novamente, pode-se fazer diferente frente aos comportamentos do parceiro, mudando, sendo criativo e responsável por sua contribuição à parceria.
Certamente relações destrutivas e doentias podem e devem ser abandonadas, mas é importante compreender o espaço relacional como o melhor lugar para aprender, crescer e curar seqüelas relacionais.
O mais importante para terapeutas ou pessoas envolvidas nestas questões é sair da crítica estéril e assim poder avaliar em cada uma das situações o que é funcional – está levando a aprendizagens, aprimoramento e tomada de consciência- e o que é um comportamento repetitivo e sem consciência e amadurecimento.
Texto escrito a partir da participação em de debate na rádio CBN – Curitiba - 2/4/11