DESENVOLVIMENTO DA PERTINÊNCIA

Solange Maria Rosset

Junho de 1999.

 

1. Pertinência

Pertinência é a disponibilidade, a prontidão para a mudança.

Desenvolve-se pertinência porque para uma terapia de mudança o cliente precisa ter consciência e responsabilidade pelo que faz e pelas mudanças necessárias.

Pertinência à terapia, precisa ser trabalhada, antes de trabalhar conteúdos, relações, aprendizagens.

 

2. Avaliação de Pertinência

Avalia-se pertinência no início do trabalho terapêutico, usando os 6 vetores ( Terapia Breve - Kesselman) e avaliando se o processo desencadeia.

Avaliar os 6 vetores ajuda também a saber como funcionam as tarefas, ver se o cliente está aquecido no processo.

Pertinência = se está disponível para o processo, se está pronto.

Pertenência = se faz parte do sistema.

Cooperação = se coopera.

Comunicação = clara.

Tele = vínculos verdadeiros, se enxerga o outro.

Aprendizagem = ... o que quer aprender, se quer.

O nível de pertinência para mudança vai se definir pelo nível e padrão de cada um desses vetores, se é baixo em um, em todos, em quais.

O cliente disponível : quer trabalhar suas dificuldades, já sabe que é da sua responsabilidade lidar com essas aprendizagens e mudanças, e acredita que a terapia é um caminho.

 

3. Postura

Em trabalho de MUDANÇA o cliente precisa ter um mínimo de pertinência. Nos casos em que não há pertinência ou ela é muito baixa, a primeira tarefa da terapia é desenvolver a pertinência. Cliente que não tem pertinência, não faz processo, faz sessão.

É importante que nessa primeira fase a família entenda e aceite que o adolescente ou criança que está fazendo sintoma, é um problema familiar, é um sintoma familiar. Se não ocorre isto, a família como um todo, como um sistema não terá pertinência para as mudanças e reformulações necessárias. Nestes casos, não é culpa dos pais, mas sim da estrutura, da situação da família.

Por essa razão, quando cliente individual ou só uma pessoa da família quer terapia familiar, se contrata só uma sessão de família para ver o que esta acontecendo, não se propõem terapia de família sem avaliar quem está querendo, quem vai precisar fazer o trabalho de falar com as pessoas, e como ir trabalhando a pertinência da família. Com isso o cliente sabe que é ele que vai ter que fazer a primeira parte do trabalho, e baixa a persecutoriedade da família.

 

4. Trabalhando a Pertinência

4.1. Postura básica - Compreensão da dificuldade do cliente, sem deixar de pontuar, marcar através de perguntas, tarefas. Não vai cobrar tarefas de forma dura, mas marcar o que acontece.

4.2. Tarefas para fase de desenvolvimento de pertinência -

- inócuas - faz vínculo, abre possibilidades, sem conotação de certo ou errado.

- preparatórias - vão abrindo espaço para trabalhos terapêuticos. Por exemplo: árvore genealógica, brasão familiar, exercícios corporais.

- auto conhecimento - mapeamentos que podem iniciar o processo de tomada de consciência.

- Trabalhar sempre sem expectativas, sem pressa, sem auto cobrança, mas com discernimento ® nesta etapa a tarefa é do terapeuta.

4.3 Tempo hábil

A definição de por quanto tempo se deve trabalhar desenvolvendo pertinência depende de avaliar até que ponto é funcional; se corre o risco de estar complementando o padrão disfuncional do cliente; se está rendendo; se há movimento no sistema.

4.4. Riscos do Terapeuta

Excesso de Expectativa ® o terapeuta mexe em aspectos que o cliente não pode, ou não pode ainda lidar .

Excesso de Pressa ® o terapeuta vai trabalhar e o cliente não vai acompanhar.

Excesso de Auto cobrança ® o terapeuta se cobra serviço e competência e entra no que não pode acontecer

4.5. Cliente que não traz material

É necessário clarear se o cliente não traz dados ou está evitando algum assunto ou se não tem o que trazer ( por falta de pertinência). Trabalha-se de forma diferente em cada um desses casos.

A dificuldade pode ser do Terapeuta, do cliente (por defesa ou por dificuldade), da relação dos dois, ou do momento.

Texto para ser usado só como auxiliar da aula relativa ao assunto.