Dinheiro e padrão de relação de casal

Solange Maria Rosset

 

Aos poucos, os parceiros que vivem juntos estabelecem uma maneira de agir e reagir que se repete frente a determinados problemas e situações. Tomar consciência do funcionamento desse mecanismo é fundamental para que eles possam administrar sem desgaste o dinheiro da família, tema que em muitos relacionamentos se transforma em perigosa arma de guerra.

 

Todo casal tem a sua forma de lidar com o dinheiro. Algumas são mais leves e funcionais, outras, mais difíceis e desencadeadoras de brigas e crises. Todas, porém, são consequência de um certo padrão de funcionamento adotado, inconscientemente, pelos parceiros. Saber disso pode facilitar muito a convivência. 

O padrão de funcionamento é aquela fórmula que o casal usa repetidamente para responder e reagir às situações da vida e da relação. Engloba o que é dito e o que não é dito, a maneira como se fala e como se faz as coisas, além de outras nuanças do comportamento, e estrutura-se a partir do padrão de cada uma das partes integrantes do casal. Na relação amorosa as pessoas ficam muito vulneráveis à ação do outro e é por isso que, mesmo sem perceber, vão se organizando desde os primeiros contatos para se proteger de mágoas ou sofrimentos. Estrutura-se assim uma forma de agir, reagir, sentir e pensar que passa a ser automática, vira um circulo vicioso relacional. O padrão que se estabelece fica tão enraizado que às vezes uma pessoa muda de parceiro, mas não de funcionamento.

Ter consciência do seu padrão individual e na relação ajuda a entender e enfrentar as dificuldades do casal no que diz respeito a dinheiro – e também em outras questões.

As decisões – quem paga as contas, como fazem o acerto, quem tem responsabilidades fixas – podem ser tomadas a partir de condições reais – data de pagamentos e recebimentos, características pessoais de cada um, facilidades de locomoção –, trazendo  racionalidade e leveza para o relacionamento. Outra maneira de abordar o tema é se basear naquilo que cada um precisa desenvolver. Por exemplo, se um parceiro tem dificuldade com os controles, passará a ser o responsável por eles, com a ajuda e a supervisão do outro, até aprender a fazê-lo sozinho.

Mas, se o casal tem dificuldades relacionais e emocionais, existe o risco de os parceiros enrijecerem nas decisões, aumentarem as cobranças e culpabilizações. Fica difícil achar saídas amenas, eles não conseguem se ajudar e nem aprender.

Quando as pessoas estão muito infelizes, depositam a responsabilidade por seu estado em todos os aspectos da relação, e as questões ligadas a dinheiro estão sempre disponíveis para servirem de prova da maldade ou da incapacidade do outro.

Um casal funcional consegue adaptar as decisões de acordo com as facilidades e o temperamento de cada um, considerando a fase que a família vive, a idade dos filhos, o incremento ou a perda de renda. Faz do tema dinheiro um aliado da união e tira dele o papel de arma de ataque ou defesa.

Nos momentos de crise econômica – fora ou dentro de casa – todos os temas tornam-se delicados. O casal que tiver aprendido a lidar com o dinheiro de maneira tranquila, enfrentará com mais facilidade as adversidades. Por outro lado, aqueles que usam o dinheiro como instrumento de guerra podem não sobreviver às turbulências. E a culpa não será da crise, mas sim do padrão de relação deles.

Enxergar o padrão e perceber como ele aparece na vida do casal quando o assunto é dinheiro, portanto, possibilita a flexibilização das regras, a diminuição das disputas e a descoberta de formas mais saudáveis e funcionais de interagir neste e em outros aspectos da vida a dois.

 

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 846 de 22/01/2010