EMARANHADO MÍTICO

Solange Maria Rosset

Junho de 2003.

 

Mitos familiares são situações definidoras das relações, do que se pode ou não se pode ser e fazer. São definidores e organizadores comuns a cada grupo familiar, e definem o espaço e o caminho que cada um dos participantes pode ter e desenvolver.

Os Mitos familiares se organizam através das gerações, e para enxergá-los é necessário olhar pelo menos 3 gerações da família.

O conteúdo mítico, no âmbito do processo da família, aparece nos sentimentos, nas proibições, nas vergonhas, nos sintomas e nas dificuldades que eles trazem. Os desencadeantes míticos estão enraizados no inconsciente da família e dos seus membros e comumente estão relacionados às questões de sexo, dinheiro, morte e loucura.

O terapeuta sabe que as restrições que o cliente apresenta são míticas, mas vai explicitar ou não, dependendo do nível de consciência e de diferenciação que os envolvidos têm. Explicitando ou não, vai trabalhá-las, especialmente através dos rituais terapêuticos, dos trabalhos com aspectos inconscientes e irracionais.

Se um membro da família está paralisado por estas questões, o terapeuta pode fazer um trabalho individual focando esse emaranhado mítico, independente da família toda estar lidando com isso ou não. Essa estratégia é terapêutica na medida em que o trabalho mítico individual é uma das formas de flexibilizar e ajudar todos os membros da família.

Trabalho mítico não se faz num nível racional : é trabalho energético, irracional, com o inconsciente. Se o objetivo for entender o que acontece, corre-se o rico de cair em elucubrações, interpretações e racionalizações que ao invés de ajudar a flexibilizar e criar novas estratégias, podem enrijecer e fortalecer as defesas.

Ë imprescindível que o terapeuta tenha passado pela experiência de clarear e acalmar seus mitos familiares para poder acompanhar seus clientes nesse processo. Sem essa vivência o terapeuta correria o risco de apressar o processo do cliente sem dar o tempo necessário para a "digestão" do material levantado; ou de fazer interpretações psicológicas gerais de um processo que é muito mais ligado ao simbolismo vivencial de cada família envolvida; ou de encaminhar o cliente a fazer mudanças concretas, onde as mudanças míticas são muito mais sutis, no significado, na emoção.