Expectativas e relação de casal

Solange Maria Rosset

abril de 2019

 

Criar expectativas faz parte do funcionamento da maioria das pessoas. E pode ser muito interessante, se, através da consciência das próprias expectativas, tomar medidas para cumpri-las ou controla-las, usando essa percepção como um indicador de que aspectos seus precisam ser cuidados ou avaliados.

No entanto, quando as expectativas e frustrações são uma rotina na relação de casal, fica muito difícil fazer bom uso da situação. Por ser a relação mais intima que alguém tem, e onde aparece sem máscaras, o melhor e o pior de cada um é fácil criar um padrão de relacionamento que não traz bem estar nem auxilia o aprimoramento dos parceiros.

As expectativas surgem por inúmeras razões, mas as mais comuns, são a carência afetiva e os contratos mal feitos.

Quando falamos sobre carência afetiva, é comum misturarmos situações de profundo abandono no processo de desenvolvimento – que acarretam uma sensação de nunca conseguir receber o que precisa ou gostaria – com situações em que a “carência” é usada como álibi para não realizarmos aprendizagens e mudanças, ou para diminuir a própria responsabilidade nas situações relacionais.

Todos tivemos frustrações e traumas nas etapas de desenvolvimento; a forma que lidamos com essa situação é que pode ser diferentes de pessoa para pessoa.

O processo disfuncional ocorre, quando a carência (necessidade ou álibi) desencadeia um excesso de expectativas no relacionamento. Este excesso de expectativas desencadeia inevitavelmente frustrações -que por sua vez não são enfrentadas como algo para se conhecer, aprender e evoluir- e,  então servem de justificativas para recaídas em padrões de cobranças, explosões emocionais e o comportamento de culpar a pessoa que o frustrou.

Os contratos mal feitos, geralmente têm como base as mesmas expectativas, na maioria dos casos, irreais. O fato de acharem que o que desejam ou necessitam deve acontecer leva os envolvidos a não prestarem atenção ao que estão combinando. Ficam ligados no que quer que aconteça, sem checar se o outro quer ou pode cumprir suas expectativas. E, então serão surpreendidos por não acontecer o que achavam que era certo.

Se o casal funciona preso nas expectativas, os parceiros estão fadados a frustrações e sofrimentos constantes. Pois, é muito difícil uma pessoa conseguir suprir a carência interna de outra pessoa. Porque a necessidade interna é muito difícil de ser vista e compreendida pelo outro, porque as sensações, emoções e sentimentos de um dificilmente são percebidos da mesma maneira pelo outro.

Dificuldades, carências, frustrações são bons mapas para nos mostrar o que estamos precisando enxergar, aprender e mudar. Compreender desta forma possibilita vivermos nossos relacionamentos usufruindo o que temos de bom e prazeroso e usando as pistas para autoconsciência e autodesenvolvimento.