Família,
Novas configurações,
Novos problemas,
Novas soluções.
Solange Maria Rosset
A família sofreu muitas mudanças nas últimas décadas, e hoje encontramos famílias com variadas configurações. Isto leva à muitas dúvidas e angústias sobre qual são as formas mais adequadas de lidar com as novas situações familiares. Essas questões surgem nos integrantes das famílias, nos terapeutas e em todos os profissionais que interagem com elas.
Novas configurações
Hoje encontramos famílias com configurações muito diferentes da tradicional família pai, mãe, filhos.
- Famílias monoparentais
O número de famílias sob responsabilidade de um só dos progenitores cresce mais a cada dia. Na maioria das vezes são mulheres que tomam cargo sozinhas das tarefas de criar e educar seus filhos.
- Famílias de casais homossexuais
Também está crescendo o número de casais homossexuais que estão tendo seus próprios filhos, assumindo os filhos do/da parceira ou adotando crianças e formando uma família.
- Famílias com agregamento de muitos subgrupos
Não é raro encontrarmos famílias onde seus membros fazem parte de várias outras famílias. PODEM SER DESDE o já quase tradicional “os meus, os seus, os nossos” ATÉ algumas situações mais diferentes, como por exemplo o filho de um rapaz, que após a separação do seu pai com sua madrasta ficou morando com a madrasta e a filha dela, que não era filha do seu pai.
Novos problemas
Com essas novas configurações e situações, além das dificuldades com a criação dos filhos e adaptações necessárias, inerentes a todas as famílias, surgem também problemas novos.
- Afastamento na relação com pais
- Funções parentais confusas
- Envolvimento de crianças em guerras relacionais de adultos
- Distanciamento de vínculos familiares da família extensa
- Dificuldades nos sentimentos de pertencimento
- Confusões na estruturação de identidades pessoais e familiares
Novas soluções
Todas as propostas de soluções são um desafio a vencer, pois significam encontrar uma forma nova para lidar com as situações, sem esquecer os sentimentos desencadeados e as pessoas envolvidas. Isso significa:
- Aceitar um modelo de família diferente do padrão tradicional.
- Tomar consciência dos sentimentos e preconceitos.
- Flexibilizar, ter criatividade para possibilitar mudanças e arranjos necessários e funcionais.
Divórcio
Cuidados importantes no divórcio formal e no divórcio emocional:
- Enxergar o divorcio como uma etapa, uma tarefa, e evitar transformar em uma guerra;
- Assumir a decisão, aceitar sua parte no que aconteceu com o casamento;
- Planejar a separação do sistema. Isto inclui apoiar arranjos viáveis para todas as partes do sistema, resolver cooperativamente os problemas da custódia, manter a família unida apesar do divórcio;
- Continuar um relacionamento co-parental cooperativo e o sustento financeiro dos filhos;
- Viver o luto pela perda da família intacta; ·
- Lutar para a reestruturação dos relacionamentos da díade progenitor-filhos e das finanças;
- Adaptar-se a viver separado, mas mantendo o parentesco com a família maior;
- Elaborar o divórcio emocional: superação de mágoa, raiva, culpa; luto pela perda da família intacta; abandono das fantasias de reunião, permanecendo a conexão com as famílias ampliadas;
- Para o cônjuge que fica com a custódia dos filhos existem várias tarefas e aprendizagens: continuar com disposição para manter as responsabilidades financeiras; continuar o contato com o ex-cônjuge e apoiar o contato dos filhos com o ex-cônjuge e sua família; fazer arranjos flexíveis de visita com o ex-cônjuge e sua família; reconstruir os próprios recursos financeiros; reconstruir a própria rede social;
- Para o cônjuge que não fica com a custódia dos filhos, as tarefas e aprendizagens são também importantes: continuar com disposição para manter o contato com o ex-cônjuge e apoiar o relacionamento dos filhos com o progenitor que tem a custódia; descobrir maneiras de manter uma paternidade/maternidade efetiva; manter as responsabilidades financeiras com o ex-cônjuge e os filhos; reconstruir a própria rede social.
Recasamento
- Planejar o novo casamento e a nova família aceitando os próprios medos e os do novo cônjuge, como também os medos dos filhos, em relação ao fato;
- Aceitar a necessidade de tempo e paciência para o ajustamento às complexidades e ambigüidades de: múltiplos papéis novos, fronteiras, espaço, tempo, condição de fazer parte da família, autoridade, questões afetivas, culpa, conflitos de lealdade, desejo de mutualidade, mágoas passadas não resolvidas;
- Trabalhar a honestidade no novo relacionamento, para evitar os mal-entendidos;
- Planejar a manutenção de relacionamentos financeiros e de co-paternidade cooperativos com os ex-cônjuges;
- Planejar uma forma de ajudar os filhos a lidarem com seus medos, conflitos de lealdade e as condições de fazerem parte de dois sistemas;
- Reorganizar os relacionamentos com a família ampliada para incluir o novo cônjuge e filhos;
- Planejar a manutenção das conexões das crianças com a família do(s) ex-cônjuge(s);·
- Possibilitar fronteiras permeáveis para inclusão do novo cônjuge (padrasto ou madrasta);
- Realinhar os relacionamentos e arranjos financeiros em todos os subsistemas para permitir o entrelaçamento de vários sistemas;
- Criar espaço para os relacionamentos de todos os filhos com os pais biológicos, avós e o restante da família ampliada;
- Compartilhar lembranças e histórias para aumentar a integração da nova família;
Família uniparental
- Manter o contato dos filhos com a família do pai/mãe ausente;
- Estabelecer relações de apoio e ajuda;
- Manter vivos os dados e as histórias vividas com o pai ausente;
- Adequar a função e autoridade de avós que desempenham funções de pais;
- Manter a autoridade e a função parental do genitor presente.
Casamentos homossexuais
- Possibilitar que todos os envolvidos acessem e lidem com seus sentimentos e/ou preconceitos;
- Manter as funções necessárias para o desenvolvimento e crescimento da família.
Outros modelos de casamentos
- Aceitar as mudanças, lidando com os sentimentos, preconceitos e dificuldades inerentes;
- Ficarem atentos às necessidades de renegociações, de reformulações para as funções familiares serem cumpridas.
Sejam quais forem os modelos e configurações das novas famílias, o foco deverá ser sempre possibilitar que as tarefas e funções parentais sejam desempenhadas de forma adequada para o crescimento e desenvolvimento físico e emocional das crianças e adolescentes.