Ficarem juntos apesar das dificuldades*

Solange Maria Rosset

Janeiro de 2018

 

Nas clássicas histórias da carochinha, os príncipes e princesas se encontravam, se apaixonavam, se casavam e eram felizes para sempre. Esta ideia de perfeição pode parecer ironia simplória, mas, quem trabalha com pessoas e com casais sabe que, por mais incrível que isto possa parecer, muitas e muitas pessoas acreditam nessa história da carochinha e esperam que sua vida conjugal seja semelhante.

Acreditar nesta possibilidade irreal leva as pessoas e os casais a viverem os seus relacionamentos com muita frustração e produz a eterna sensação de que foram prejudicados pelos deuses, ou castigados por algum erro ou pecado ao não ter aquela vida de casal idealizada. Além disso, as pessoas nessas condições também costumam buscar um culpado para tal desconforto, que geralmente é o parceiro.

Pensar que a vida de casal existe para que os participantes possam evoluir, crescer e aprender um com o outro e com o relacionamento ajuda a sair dessa expectativa irreal. Essa visão realista facilita enxergar o que os parceiros têm de bom, útil e prazeroso, e também ajuda a descobrir as dificuldades pessoais e as do parceiro, sem que isso desencadeie culpas, vergonhas e incompetências por não terem uma vida considerada ´perfeita`.

Quando se abre mão da expectativa da perfeição e se lida com a realidade do relacionamento, o casal pode começar a fazer escolhas relacionais mais úteis e responsáveis. Tendo consciência do que é importante para cada um e para o casal, os parceiros, e só eles, podem e devem definir se vão continuar no relacionamento, os porquês e os pra quês dessa decisão.

Dificuldades, obviamente, sempre existirão. Ao decidir ficar juntos apesar delas, o casal vai definindo seus objetivos e as formas de administrar o que pode acontecer e prevenir as armadilhas do dia a dia. Existem casais que definem que vão continuar juntos pelos mais variados e inusitados motivos – os filhos, as questões sociais ou materiais, as inseguranças, as aprendizagens, o aprimoramento -, e só o casal pode saber suas reais razões ao fazer suas escolhas. No entanto, o casal deverá avaliar se esta escolha é um álibi compulsivo ou uma escolha consciente e responsável.

Sejam quais forem os motivos para manter o relacionamento, é preciso deixar claro que não existe garantia de que vai dar tudo certo. Dificuldades podem surgir dessas escolhas. Mas, se os parceiros  têm clareza e acordo mútuo nas decisões, irão, juntos, responsabilizar-se pelas consequências delas. E, novamente, realizar escolhas e tomar decisões. Não na expectativa de fazer a escolha perfeita, mas sim na de promover aprendizagens e paz para eles e também para os filhos que porventura tiverem.

Agindo desta forma responsável, os parceiros estarão aprendendo a lidar com a realidade, e, o que é mais importante, estarão ensinando aos filhos, à família e  a pessoas próximas que a vida não é um ingênuo “felizes para sempre” dos contos de fadas, mas sim um constante exercício de buscar o bem-estar, a harmonia e a coerência dia após dia.

*Texto publicado na Coluna Amor da revista Caras, edição 1264 de 26/01/2018