Flexibilidade e Concessões na Relação de Casal

Solange Maria Rosset

 

Para ter harmonia na vida a dois, é essencial que os parceiros sejam flexíveis. Mas eles devem refletir sobre até que ponto vale a pena ceder para agradar ao outro. Mais importante do que ser flexível é ter consciência e controle sobre os exercícios de flexibilidade. O bom senso precisa prevalecer. Ter flexibilidade pressupõe uma variada gama de atitudes e comportamentos que se reorganizam de acordo com as diferenças entre os parceiros e as mudanças que vão ocorrendo na vida a dois. 

A concessão é um dos instrumentos que garantem a continuidade do vínculo e uma forma de demonstrar afeto, compreensão, compaixão e desprendimento. Sem concessões, uma relação está fadada ao fracasso. Mas também podem trazer muitas dificuldades e problemas.

Um dos perigos são as concessões ocultas que os parceiros fazem. Muitas vezes nem a pessoa que as faz tem consciência de que está abrindo mão de desejos e posições. Como não são acertos explícitos, não podem ser negociados e vão minando interiormente. Podem gerar mágoas e a sensação de estarem sendo injustiçados.

Outra questão que desencadeia muitos mal-entendidos são as concessões feitas com a expectativa de que o outro perceba e dê algo em troca. Como é comum ele nem perceber, ou receber o agrado sem se preocupar em retribuir, também geram mágoas e mal-estar.

Ao fazerem concessões, as pessoas se forçam a fazer coisas que, de outra forma, não desejariam realizar. Se a condescendência ou o sacrifício se revelarem mais difíceis ou desagradáveis e menos compensadores do que o previsto, a pessoa pode rebelar-se e tornar-se zangada ou arredia. O desejável é que cada um seja capaz de agradar ao parceiro e fortalecer a união sem se ressentir ou retrair.

Quando um dos parceiros cede mais que o outro, a questão não é quanto um ou outro cede, mas o bem-estar que ambos sentem na relação. Se ceder traz harmonia e os dois não se sentem lesados, não existe problema. Para evitar magoas ao fazer a vontade do outro é essencial pensar que se trata de escolha e um investimento na relação e portanto não há motivo para queixas. Mas,se ceder é um jogo para ter poder, ou uma forma de cobrar depois, ou com a expectativa de que o outro também faça  concessões, será um movimento disfuncional, que pode trazer outros dissabores. 

É comum que no início da relação a pessoa “aceite tudo”, mas passada essa fase a “bondade” se vá. Isso ocorre porque, durante a paixão, não se enxerga com clareza o outro nem a relação. Por essa razão se faz coisas que depois não trazem bem-estar. Todo relacionamento precisa se adaptar a ciclos, tempos e contextos. Em cada uma das fases o casal deve conversar e estabelecer novos ajustes e contratos. A melhor maneira de negociar é conversando, colocando seus seus sentimentos, ouvindo o que o parceiro tem a dizer, seus pontos de vista e seus sentimentos. Assim, a escolha por fazer uma concessão se torna uma forma de flexibilizar e enriquecer a relação.

Há dois exercícios na conversa sobre acertos e concessões que ajudam o casal a negociar: colocar-se no lugar do outro -- percebendo, imaginando o que deseja, o que o agrada e desagrada -- e falar dos próprios sentimentos, em vez de falar do que o outro faz -- para que compreenda seus pontos de vista e não se sinta cobrado nem criticado. Quanto mais os dois fizerem concessões de forma consciente, mais amorosa pode ir ficando a relação.