Impacto do desemprego nas relações familiares e de casal

Solange Maria Rosset

Abril de 2018

 

Quando um dos elementos do sistema familiar passa por uma situação de desemprego muitas angústias e ansiedades aparecem nas relações familiares. Essas emoções surgem pelas inseguranças e medos que o desemprego desencadeia e pelo padrão de funcionamento que as famílias têm. Esse padrão de funcionamento define a forma como os membros da família se relacionam mas define também o significado e o valor que o emprego/desemprego tem para cada núcleo familiar e as expectativas que os membros da família tem de cada um dos outros.

Pais têm expectativas com relação aos filhos e vice versa, mas é o sub sistema casal que mais sofre interferências no desemprego. E aí, as expectativas, conscientes ou não, são responsáveis por muitos sentimentos e comportamentos.

Teoricamente, existem várias funções do casal, que vão fazer com que a vida conjugal seja mais plena, útil e interessante. Uma dessas funções é a de serem continente e cuidado para com os estresses externos. Um casal que já desempenha essa função entre eles, no momento do desemprego, terá mais facilidade em cuidar um do outro, em conversar amorosamente sobre a situação, sem as críticas e desqualificações que os medos e inseguranças fazem crescer neste momento. Esses comportamentos não têm utilidade nesse acontecimento;  só machucam e afastam o casal. Se conseguirem ser cuidadosos e amorosos nessa situação poderão passar para a outra função do casal que é aprender e aprimorar com o que o outro tem de diferente. E poderão, cada um usando o que de melhor tem, planejar como lidar com essa situação estressante.

Quando o casal se junta, cada um traz a forma de funcionamento da sua família de origem. Muitos passam a competir por qual é o jeito certo – o da sua família – e assim, ao surgir o desemprego, esse vai ser o comportamento. No entanto, alguns casais, sabem que criar uma família, pressupõe definir o seu próprio jeito de lidar com as regras, escolhas, decisões – nem o da família de um nem  da família do outro, mas o deles próprios. Na situação de desemprego, eles irão funcionar com um time e não como times opostos em disputa.

Seja na família como no casal, é importante saber que numa crise – como o desemprego - aquilo que estava encoberto e se evitava olhar vem à tona. Saber disso já é uma forma de prevenir maiores dificuldades, mas o mais importante é saber que crises trazem aprendizagens e mudanças. Focar no que precisam aprender -individualmente, como família e como casal- poderá transformar algo ruim em um elemento de mudança.