INDICAÇÕES : QUANDO FAMÍLIA, CASAL, INDIVIDUAL OU GRUPO

Solange Maria Rosset

Novembro de 1989.

 

      Como avaliar e qual a indicação a fazer é a preocupação básica, não só de todos os terapeutas, mas também de todas as pessoas que vez ou outra precisam encaminhar alguém para a terapia.

Na abordagem RELACIONAL SISTÊMICA, nossa preocupação é não só fazer uma correta avaliação e a indicação mais eficaz, mas também sistematizar os critérios por nós usados de forma a facilitar a aprendizagem e o uso por nossos alunos e terapeutas.

 

AVALIAÇÃO

      A condição fundamental para um terapeuta realizar uma boa avaliação é que saiba VER.

      Saber VER, é estar aberto a enxergar aquele indivíduo como uma entidade única, poder vê-lo sem idéias pré-concebidas (do encaminhador, da teoria etc...); poder vê-lo sem transferências pessoais.

      É indispensável compreender o cliente como alguém que tem um "personalidade primária" (segundo Guerda Boyessen) ou seja alguém que tem um núcleo de saúde (por mais escondido que esteja no momento).

      Saber VER é estar suficientemente junto para poder sentir a pessoa, sua energia, seu tônus emocional e suficientemente longe para poder ouvir e ver todos os sinais que ela lhe passa, desde os mais concretos (seu corpo, postura) até os mais sutis.

      No nível teórico-técnico nós usamos a compreensão dos 6 vetores propostos por Kesselman, para facilitar a organização da avaliação, ou seja: Pertenência, Pertinência, Cooperação, Comunicação, aprendizagem e Tele.

      No nível pessoal nossa proposta é: cada vez mais treinar e aprimorar as condições individuais que possibilitam uma boa visão e compreensão das situações (intuição, sensibilidade) para que juntando TEORIA, TÉCNICA e DESENVOLVIMENTO PESSOAL possamos ser cada vez mais hábeis na tarefa de avaliar corretamente as situações que nos são apresentadas.

 

      O processo de avaliação inicia quando a secretária nos passa o pedido, pois os dados que são apresentadas já vão se organizando na nossa compreensão.

      O 1º contato com o cliente (normalmente pelo telefone), vai configurando hipóteses e apresentando novas idéias.

      Nossa preocupação é estabelecer um vínculo e de forma objetiva e concisa (pois não é uma sessão!!) obter o maior número de dados pertinentes à situação.

      Antes da 1º sessão serão realizados tantos contatos quantos se façam necessários para que o terapeuta tenha uma idéia clara do que está acontecendo, quem está envolvido, quais são os objetivos.

      Na maioria dos casos, nesta fase já é possível ter uma decisão do encaminhamento a ser feito e já se marca a 1º sessão pertinente ao encaminhamento. Quando não, se marca a 1º sessão ainda para checar as hipóteses e colher novos dados.

      Em alguns casos, precisa-se de um número maior de sessões para clarear o melhor encaminhamento, e em outros com o correr do tempo e do trabalho as indicações vão se alterando.

 

      Vale a pena salientar alguns itens que são pertencentes à forma de trabalho da TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA e não à maioria das outras escolas de terapia.

      - É o mesmo terapeuta que atende todo o sistema.

      - O foco do trabalho é na mudança e na aprendizagem.

      - O cliente precisa ter pertinência e responsabilizar-se pelo processo.

      Ou então o trabalho poderá ser apenas de desenvolvimento de pertinência e responsabilidade.

      - Trabalhamos com o que é possível fazer no ponto em que a pessoa se encontra. A definição é pelo que é mais necessário, mais pertinente, viável no momento.

      - A forma como o terapeuta vai se inserindo no sistema e construindo o vínculo terapêutico já vai ativamente interferindo, redefinindo etc..., o que faz com que mesmo a fase inicial já seja processo terapêutico.

      - Nossa preocupação é a recuperação do processo de crescimento. Existe em nós a confiança básica na saúde, e que por mais esdrúxulo que seja o comportamento ou o sintoma, ele tem um nexo na situação do sistema.

      - O processo é do sistema (Ind. Fm.) e a tarefa do terapeuta é ajudar a destravar o processo, facilitando que o movimento seja retomado e auto regulado pelo sistema.

 

SOBRE O CLIENTE

      O cliente é o sistema individual ou o sistema grupal (família).

      Nossa concepção é o ser humano como um ser em relação.

      No entanto, quem vai ser efetivamente atendido dependerá de cada situação/momento/queixa/pedido.

      É da natureza humana nascer dentro de um grupo e trilhar o caminho da individualização, sendo que os dois aspectos de pertencer e individuar-se (separar-se) coexistem ao longo da vida. A compreensão de em que etapa desse processo de pertencer e separar-se a pessoa se encontra, também vai ajudar a definir a abordagem da situação.

      É realizada também uma identificação e leitura da rede de relações. Verificando o seu nível de funcionalidade/disfuncionalidade, momento de crescimento, crises previsíveis ou traumáticas, presença de sintomas, nível de risco, gravidade, nível de rigidez do sistema.

 

ENCAMINHAMENTOS

      Quando encaminhar para este ou aquele trabalho?

 

TERAPIA DE FAMÍLIA

      - Quando o pedido refere a crianças e/ ou adolescentes.

      - Situações familiares que envolvem toda a família, e às vezes extrapola a família nuclear.

      - Quadros mais graves - família rígida - pacientes psicóticos.

      - Quando o pedido refere ao casal, mas com necessidade da presença dos filhos como facilitadores.

 

TERAPIA DE CASAL

      - Quando a queixa é relacional.

      - Quando uma das partes do casal faz sintoma.

      - Na evolução de um trabalho de família.

 

TERAPIA INDIVIDUAL

      - Quando a necessidade é dar seguimento ao processo pessoal.

 

      Sessões individuais

      - Na necessidade de um espaço/tempo pessoal privilegiado (por crise, início de processo, aprofundar determinado aspecto).

 

      Sessões de grupo

      - Para reprocessar o grupo primário interiorizado e repetido nas relações.

      - Como laboratório de vida.

 

      Maratonas de Mobilização Terapêutica

      - Espaço intermediário entre a terapia individual e de grupo.

      - Tem a função de mobilização.

 

      Nossa proposta é que o trabalho siga estas regras básicas. Regras que são fixas para poder organizar o desenvolvimento teórico, técnico e clínico do trabalho e para que esse trabalho possa ser avaliado. Mas são regras que não são rígidas, para que possam ser alteradas e adaptadas em função do caso, do terapeuta, do momento, das contingências.