Infidelidade e relação de casal

Solange Maria Rosset

Agosto de 2014

 

Há muitas maneiras  de encarar a infidelidade. Cada casal tem a sua. Mas sempre existem dores e perdas para ambas as partes e a necessidade de reavaliar a relação. Primeiro cada um precisa aprender a lidar com os próprios sentimentos e procurar compartilhá-los com o parceiro ou a parceira. É preciso clareza. Talvez os dois possam melhorar individualmente e se reencontrar. 

A infidelidade é uma quebra da confiança, o rompimento de um acordo.  Mas que comportamentos geram essa quebra?   Existem inúmeros parâmetros externos para essa definição, porém o que mesmo importa mesmo são os valores de cada casal.  Já ouvi definições muito variadas e diferentes. Para alguns, a infidelidade é motivo para encerrar a relação e para outros, estímulo para se recriarem. Há os que sentem uma dor tão forte que passam o resto da vida presos nisso, e os que, mesmo sem esquecer, não cristalizam esse luto.

No caso de não conseguir esquecer, seja por causa das suas próprias dificuldades emocionais, seja pelo inusitado da situação, a vida intima e o dia a dia transformam-se em profundo sofrimento: a dor da traição é revivida em cada desacerto, em cada situação semelhante; as pequenas vinganças, mesmo que inconscientes, envenenam o relacionamento; sinais são procurados ou criados a todo momento; a desconfiança é mesclada com a exigência de provas de fidelidade.

Nessa situação, os parceiros precisam avaliar a continuidade da relação. Se optarem pela separação, o esforço deve ser direcionado para avaliar todos os itens– necessidades, desejos, questões materiais, filhos, contratos e acertos  -  e não apenas a infidelidade, a dor, o desejo de sumir da convivência com o outro. Dessa forma, conseguem encerrar uma etapa da relação, mas não desqualificam as fases boas, a aprendizagem e as realizações do casal.

Quando, apesar do susto e das dores, o casal consegue se reencontrar, poderá usar esse fato tão difícil para melhorar o relacionamento e individualmente perceberem mais de si e do outro. O primeiro passo é lidar com a própria dor, pois não importa de que lado esteja, sempre haverá dores e perdas. É importante também tomar consciência dos outros sentimentos que forem surgindo, comuns a ambas as partes: raiva, culpa, desejo de vingança, medo e insegurança. Pensar em suas crenças com relação à fidelidade/infidelidade e o que sabe sobre as de seu parceiro ou parceira. Essas duas etapas podem acontecer com ajuda técnica ou só entre o casal. Importa é que compartilhem essas vivências, que não fiquem fechados em sentimentos e mundos paralelos.

Nesse compartilhar, podem abrir seus corações sobre experiências anteriores e familiares ligadas à infidelidade; sua fantasia/crença do que levaria alguém a trair o parceiro. Assim, o casal se prepara para definir o futuro: o que vai fazer com a cicatriz emocional da traição; que novos contratos precisa fazer; que cuidados tomar; como fará o acompanhamento dessa nova relação que vai construir. Se for possível compartilhar com o parceiro ou a parceira suas questões sobre infidelidade, o casal pode estabelecer atitudes na vida conjugal para evitar que situações de traição ocorram com facilidade.

 No caso de pessoas que têm facilidade ou compulsão a ser infiéis, é importante avaliar sua responsabilidade. Muitos álibis existem para “explicar”  e “permitir”  as  traições. Desde a flexibilização moral da sociedade até traços de personalidade, chegando ao pretexto de dizer que a infidelidade serve para proteger de outras dores. O importante é que a pessoa infiel possa enxergar seus álibis, responsabilizar-se pelo seu comportamento e consequências. 

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 1085  de 22/8/2014