Maternagem na Relação de Casal

Solange Maria Rosset

 

Quando se fala em ser cuidado, acarinhado e ter as necessidades supridas, em geral se pensa em atitudes maternas. Costumo usar para isso a palavra “maternar”. Nas relações de casal, é comum classificar-se a necessidade de ser “maternado” como deficiência, como se quem deseja cuidados estivesse preso à figura materna de forma pouco adulta.

Isso nem sempre é correto. Casais que têm uma relação saudável aprendem que cuidados e agrados podem tornar a vida em comum não só um espaço de amorosidade, como também de cura das carências vindas da infância e das relações com o pai e a mãe.

 “Maternar” o outro ou a outra não é mantê-los em suas dores e dificuldades, mas dar o melhor para fazê-los crescer. Isso pode ocorrer naturalmente no dia-a-dia ou de forma simbólica ou concreta em fases e situações importantes. “Maternar” pode ser não cobrar o que o companheiro ou companheira não tem condições de dar. É sinal de amorosidade aceitar o limite e as impossibilidades do outro ou da outra. Também é “maternagem” concordar em que precisa de momentos de troca com amigos ou amigas; que tenha gavetas ou espaços que não serão invadidos por filhos e/ou pelo parceiro ou parceira; que fique quieto ou recolhido sem precisar dar explicações nem justificativas.

“Maternar” é ainda cuidar para que o cônjuge mantenha ou desenvolva sua auto-estima. Isso pode ser feito procurando destacar seus pontos fortes, estimulando-o a desenvolver novas aprendizagens, propondo atividades e programas de que o outro ou a outra goste e nas quais é hábil, ou descobrindo novas formas de demonstrar amor e carinho.

Uma mulher que estava às vésperas de ir para a maternidade dar à luz o primeiro filho me deu um belo exemplo de amorosidade e maternagem pelo companheiro. Contou que as malas já estavam prontas e eram três: a sua, a do bebê e a do marido. Explicou que comprara pijama e chinelos novos para ele e preparara sua bagagem com tudo de que mais gostava. Era a forma de envolvê-lo amorosamente com antecedência, pois sabia que depois que o processo se iniciasse estaria só pensando em si e no bebê, e não queria que o marido se sentisse ou abandonado.

Outra forma de “maternar” é “segurar as pontas quando o outro ou a outra enlouquece”. Basta viver um pouco com uma pessoa para descobrir o que a tira de sua lucidez e harmonia. Sabendo disso e querendo ser amoroso, pode-se estabelecer estratégias para não entrar em desequilíbrio quando tais situações ocorrem. Assim, em vez de “cair na loucura” com o parceiro, poderá ficar no controle, compreendendo que o outro está em seu pior momento e controlando coisas com as quais ainda não é capaz de lidar. Saber que há alguém que está fora do redemoinho e o ajudará a sair dele é uma das maiores provas de consideração e respeito. Ter alguém que o ama ou a ama mesmo quando faz coisas menos bonitas é uma dádiva de amor.

É claro que “maternar” também é fazer um cafuné, se o outro gostar; rezar por ele sem precisar contar; fazer uma comidinha de que goste; ficar junto quando estiver triste, sem forçar para tirá-lo da tristeza ou incomodar com pedidos de explicação. Há outros gestos que quem vive junto e quer pode descobrir que é importante para a pessoa amada.
Além dos cuidados mútuos, o casal pode descobrir coisas que sejam maternagem para os dois juntos,  como uma viagem, e um programa de massagens. Ou qualquer escolha que faça os dois se sentirem bem-amados, cuidados e respeitados.

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 705 de 11/05/2007