TERAPIA DE CASAL

O CASAL EM TRANSFORMAÇÃO

Agosto/97

 

1. As mudanças nos casais e na Terapia de Casal

     As questões que levam um casal a procurar Terapia de Casal, mudou muito nos últimos anos, em função de todas as mudanças ocorridas no âmbito social e cultural (de hábitos, rotinas, conceitos morais, entre outros).

 

     Antigamente a procura se dava, na maioria dos casos quando já estavam em vias de separação. Hoje, os casais já procuram Terapia para melhorar a qualidade do relacionamento, para desenvolver o crescimento pessoal e do casal.

 

     Uma das mudanças mais importantes que ocorreu é a que permite que os homens manifestem sentimentos mais ternos e participem mais na vida emocional da família.

 

     Durante muito tempo se pensou que a guerra dos sexos era inata, mas hoje se sabe que não é, ela é aprendida. E na medida em que os homens passam a estabelecer vínculos emocionais e afetivos com os filhos, esses vão crescer com uma tendência diferente. Uma vez legitimado seu acesso aos sentimentos, os homens não precisam mais canalizar tanta energia para a aquisição de status e poder e não precisarão depender das mulheres para gratificação emocional.

 

     Também a Terapia de Casal foi mudando seus enfoques e direcionamentos. Uma modificação importante é ligada às mudanças na compreensão do que é um casal, e as razões para se estar junto.

 

     Nos últimos anos foi sendo desenvolvida uma abordagem diferente, baseada no crescimento e no desenvolvimento. No contexto da terapia de casal, os terapeutas passaram a trabalhar segundo o princípio "vamos acrescentar o que vocês precisam para viver bem".

 

     A maioria dos estudos de psicologia conjugal partem da premissa de que é na relação de casal que certas necessidades são satisfeitas. A patologia surge quando os parceiros não conseguem satisfazer reciprocamente estas necessidades.

 

     Estatísticas mais recentes demonstram que pessoas casadas estão melhor, em aspectos importantes tais como índice de mortalidade, distúrbios psíquicos e somáticos, doenças psicossomáticas, drogas, alcoolismo, estado de defesas imunológicas, número de infartos, cânceres e suicídios.

 

     Outro aspecto importante é o ligado ao espaço de crescimento que a relação permite. Dois parceiros nunca correspondem nem satisfazem completamente um ao outro: sempre é assim na natureza. Sempre construirão a realidade de modo diferente. Determinante é se os construtos pessoais são ou não compatíveis entre si. Essa diferença pesa muito na "dor do amor". No entanto, as tensões resultantes de opiniões diferentes dão sabor à relação; na verdade, é isso que faz com que a história de uma relação seja aventurosa, incomparável, única. Porém muitas das potencialidades evolutivas não podem ser realizadas numa relação a dois. Cada qual evolui em um domínio tolerado pelo outro, pelo qual os dois estão sempre negociando entre si e lutando juntos. Encontrar compromissos e saídas exige um ato de criatividade. Afastar-se e depois reaproximar-se faz correr riscos, mas também torna viva a relação.

 

     Os conceitos de casal útil e de casal terapeuta do indivíduo, focam a relação como um espaço de desenvolvimento das potencialidades pessoais, e as dificuldades são vistas como a possibilidade de trazer à luz os pontos pessoais que precisam ser burilados. Para isso, os terapeutas sabem que é preciso promover a compaixão e o amor entre os casais, e neutralizar a força destrutiva ligada ao medo. Depois é preciso canalizar construtivamente a energia que foi usada negativamente, de modo a promover estima e intimidade. Longe de procurar meios de desestabilizar ou arrebentar um sistema demasiado rígido, o terapeuta de casal espera, em seu trabalho, criar uma ilha de tranqüilidade e equilíbrio, um lugar de calma onde o conflito possa ser reexaminado sem a inevitabilidade de uma "escalada" bilateral, em que o jogo de soma zero se transforme numa atitude de "ganhar ou perder".

 

     A grande incidência de famílias e casais reconstituídos trouxe a necessidade de um paradigma inteiramente novo para compreender a complexidade das relações em uma família reconstituída.

 

     Com tudo isso, passou também a ter maior importância a pessoa do Terapeuta de Casal - seu ECRO, seus posicionamentos pessoais, seu trabalho com sua família de origem. Quanto maior a consciência que o terapeuta tem destes seus aspectos, mais hábil estará para acompanhar seus clientes nas novas buscas e questionamentos, com neutralidade e circularidade.

 

     Outro aspecto que se tornou importante é a diferenciação da Terapia de Casal focando o subsistema conjugal e/ou o subsistema parental.      Com essa mudança, se redefine objetivos, tarefas, encaminhamentos do processo terapêutico, bem como a tarefa do terapeuta de casal.

 

 

2. Indicações de Terapia de Casal

     A Terapia de Casal é indicada de um modo geral, em 3 situações:

 

     - Quando a queixa é relacional: o casal está tendo dificuldades e sabe que o problema está em seu relacionamento.

 

     - Quando uma das partes do casal faz sintoma: se um dos elementos do casal está tendo algum sintoma, seja físico, emocional ou de outra área, com consciência ou não de que algo precisa ser alterado no vínculo do casal.

 

     - Na evolução de um trabalho de família: quando a família é atendida por queixas familiares ou sintoma de um dos filhos, e após redefinições e alterações, surgem as dificuldades de base do casal.

 

 

3. Sessão de casal

     O foco do trabalho terapêutico é a tomada de consciência do funcionamento individual e de casal, levantamento dos aspectos que precisam ser mudados e das aprendizagens que necessitam ser feitas.

 

     Essas aprendizagens acontecem na sessão através de novas visões e experiências das situações rotineiras e via prescrições para serem realizadas no intervalo das sessões.