O CONCEITO DE COLUSÃO
Uma Integração Entre Proposta Sistêmica e Psicodinâmica Para Terapia de Casais.
Jürg Willi
A terapia de casal tem sempre sofrido de falta
de identidade própria (1). A proposta psicanalítica, focalizando-se
mais sobre o indivíduo do que sobre a relação entre os
parceiros, identifica em um ser bem individualizado o pré requisito necessário
para o bom funcionamento do casal.
Ao contrario a teoria sistêmica vê
as relações de casal num contexto de família sublinhando
os aspectos relacionais e ignorando os individuais.
Pessoalmente estou convicto de que a estratégia
de terapia de casal deveria resultar da integração de dois aspectos:
sistêmico e psicanalítico.
Discussões de Alguns Conceitos Psicanalíticos
Correlações entre neuroses individuais e falência de casal
A psicanálise define a importância,
para um casal, de relações objetais maduras e recíprocas,
entendida como a capacidade de manter ligações de união
e cuidado apesar das vicissitudes criadas pelas trocas afetivas, desilusões
e frustrações. Relações objetais maduras estabilizam
o funcionamento emotivo de um indivíduo também em situações
de dificuldade ( 9 Pag. 35). As relações com os outros, que um
indivíduo dependente, com falta de integração e diferenciação
ao nível do ser, tende a criar, representam uma compensação
aos defeitos narcisistas, apoiando-se sobre importantes objetos internos e mantendo
assim um equilíbrio narcisístico muito frágil. Se tem pois
como hipótese, que a neurose individual seja correlata com o falência
do casamento.
Essa teorização psicanalítica se choca com a evidência
clínica : existem relações estáveis e felizes entre
indivíduos altamente neuróticos os quais, tendo a consciência
dos próprios problemas, esperam menos, no momento atual, que o outro
faça por ele, facilitando assim um bom funcionamento de casal. Apesar
de sermos indivíduos aparentemente sãos, somos incapazes de manter
ligações estáveis com os outros, assim como conflitos irracionais
de casal podem aparecer na ausência de alguma patologia individual significativa.
(4 pag.454).
A patologia individual é uma das causas principais de repetir-se os erros também nas novas relações.
Esta idéia não foi confirmada
por dados clínicos. Ela pressupõe que o comportamento individual
seja virtualmente independente de fatores relacionais. Do meu ponto de vista
é sobretudo a estrutura da relação que determina se prevalecerá
um comportamento são sobre o não sadio. O comportamento individual
varia por conta das relações nas quais ele se explica. A psicanálise
tem falta de uma perspectiva holística, relacional e ignora o fenômeno
pelo qual as estruturas relacionais possibilitam um comportamento específico
e não um outro. Os fatores relacionais determinam quais dos potenciais
comportamentais de um indivíduo serão expressos numa determinada
relação, e é por isso que eu proponho o termo "personalidade
interativa" (22).
História pessoal e psicopatologia individual são por isso profecias
inconfiáveis já que cada casal desenvolve a própria dinâmica
relacional.
Discussão de Alguns Conceitos de Terapia Familiar Ssistêmica
Díades conjugais versus díades genitoriais
Existem algumas diferenças fundamentais
entre o sistema casal e o sistema família:
Em terapia familiar, a família como um
sistema não é colocada em discussão. Na terapia de casal,
ao invés, o problema freqüentemente tem a ver com a existência
mesma do sistema.
1 - A formação e a manutenção
de um sistema casal implica em um contínuo processo de escolha. No sistema
família não existe este problema : os filhos não podem
escolher os pais nem os pais podem fazê-lo com os filhos.
2 - É por isso que na terapia de casal
é importante diferenciar os itens relativos a díade, os medos,
as necessidades, as expectativas e perspectivas de crescimento. Tudo isso é
ainda mais importante no tratamento de casais em vias de separação,
pois que o insigt e a compreensão destes pontos podem facilitar o processo
de separação e a possibilidade e sentir-se livres e disponíveis
a uma nova união.
3 - O sistema de casal se pode romper , o familiar
não : os filhos podem mudar a relação com os pais mas não
podem anular a relação com eles.
Os conflitos que envolvem a organização,
a estrutura e as regras do casal, tem a ver freqüentemente com importantes
aspectos psicodinâmicos. Explorar os objetivos e os temas emotivos da
díade, clarear modalidades colusivas, trabalhar sobre como foram desenvolvidos
os sentimentos de esperança, desejo, frustração, ansiedade,
vergonha e culpa na história da relação são todos
instrumentos importantes no processo terapêuticos.
Importãncia das Trocas Sociais na Formação dos Conflitos de Casal
O estudo de casais formados de parceiros muito
neuróticos e não obstante envolvidos em relações
estáveis por 16 anos ou mais nos informa o fato de que o êxito
de um casal não depende exclusivamente da presença ou não
de patologia pessoais ou relacionais, mas também da qualidade dos ideais
compartilhados. Parceiros com alta expectativas libídicas reciprocas
incorrem facilmente em desilusões com respeito à realidade, coisa
que pode levar a uma desestabilização da homeostase do casal.
Trocas muito rápidas a nível das normas e dos valores torna muito
difícil para os parceiros desenvolver os ideais de casal mútuos
e distintos que permitam uma boa identificação e facilitem o nascer
de uma estrutura definida no sistema.
A presença de ideais compartilhados e de
estrutura de casal clara e definida permite um bloqueio do estresse.
Nos dias de hoje existe uma grande confusão entre normas, valores, regras
e estrutura da vida do casal que conduz inevitavelmente a uma sensação
de insegurança, inadequação, ansiedade, vergonha e culpa.
Estes sentimentos, em volta dos parceiros, reforçam a confusão
entre valores, regras e estrutura. Por exemplo: entre ambos os parceiros podem
desejar intimidade e franqueza recíproca e ao mesmo tempo recusarem a
idéia de um empenho contínuo na relação que requereria
investimentos emotivos muito altos. Mas a falta de investimento cria ciúme
que por sua vez traz o evitamento do investimento emotivo.
No momento que, nos nossos dias, o sustento material
não é mais o objetivo primário do casamento, as emoções
conquistaram uma enorme importância. A promessa do esvaziamento das necessidades
individuais favorece a emotivização das dinâmicas intra
diádicas que por sua vez não faz mais que acentuar a manifestação
de disposições neuróticas de qualquer um dos parceiros.
O conceito de colusão (22,23) tem o que
fazer com este tipo de interação emotiva. É baseado sobre
a idéias de Henrry Dicks (3) e seus conceitos sistêmicos. Conceitos
similares tem sido propostos por Bowen, Meissner, e Gurman (2,9,4).
Casais Colusivos
A totalidade diádica determina o comportamento individual no sistema casal
Em cada relação o comportamento
individual se modela, é neutralizado ou amplificado em função
das personalidades de ambos os parceiros. Os estudos sobre formação
de casais que tomam como exame os dois parceiros separadamente, não se
dão conta do fato de que, em realidade, não se ocupam de aspectos
das personalidades interativas que têm muita importância na escolha
do parceiro, mas de alguns parâmetros não interativos. A estrutura
da personalidade ou o comportamento dos parceiros deve ser estudada durante
a interação (21).
No interior da dinâmica diádica ambos
os parceiros manifestam um comportamento, devido aos ajustamentos e a divisão
das funções que são interdependentes. A complementaridade
é o modelo relacional mais estável e mais comum. Em geral o relacionamento
é construído de tal maneira que os membros do casal tem necessidade
um do outro: o parceiro A pode ser débil e impotente até onde
lhe é permitida pela capacidade de cuidado de B; B por sua parte pode
prestar o seu cuidado até onde a fraqueza, a debilidade e a necessidade
de A o permite. A atividade/passividade, autonomia/dependência, dominação/submissão,
etc., vem expressa na díade em papéis complementares. Comumente
o hiperfuncionamento de um parceiro provoca a inatividade do outro; o comportamento
pseudomaduro, forçadamente adulto de um pode desencadear o regressivo,
infantil e irresponsável do outro, e vice versa. Bowen (1,2) fala do
mesmo fenômeno referindo-se em termos de adequação/inadequação
sublinhando que "as pessoas tendem a escolher parceiros que alcançaram
o mesmo nível de maturidade mas que adotaram modelos opostos de organizações
defensivas" (9 pag 43).
Pessoalmente prefiro o termo regressivo e progressivo,
pois que eles se referem aos aspectos de desenvolvimento e de processo da relação.
No interior da relação qualquer
parceiro vem disposto a crescer e tornar-se mais maduro e responsável
e concomitantemente lhe é dada a possibilidade de regredir para receber
suporte onde lhe é necessário. Os termos progressivo e regressivo
se referem as relações com outros significativos, como um processo
coevolutivo.
Considerando a totalidade diádica , um
bom nível de complementaridade diminui o medo de perder o parceiro e
reforça a interdependência e a coesão do sistema par.
Os modelos de comportamentos diádicos podem
ser facilmente explicados, retrospectivamente, em termos de experiência
relacional infantil; é todavia impossível prever o tipo de comportamento
conjugal usando o mesmo parâmetro. Uma mulher com um pai dominante pode
escolher seja um companheiro dominante ou um submisso, repetindo ou evitando
desta forma a experiência já vivida, ou poderia transferir o problema
da dominação para as relações profissionais e escolher
um parceiro fraterno e amável sobre o qual apoiar-se deixando de lado
o como enfrentará seu medo de ser dominada.
O comportamento interativo como parte da organização defensiva.
O casamento fornece um ambiente dentro
do qual se pode exprimir tanto as necessidades progressivas como as regressivas.
Uma relação de casal estável implica o adiamento no tempo
de necessidades pessoais, requer responsabilidade recíproca, empenho
nos confrontos de objetivos comuns mas possibilita também a satisfação
das necessidades regressivas.
Os casais que vem à terapia freqüentemente
exprimem comportamentos extremamente polarizados; não obstante isto não
tem uma diferença clara entre complementaridade neurótica e normal
(4 pag 475). Esta polarização pode ser causada por fatores situacionais
e ser por isso funcional. Quanto mais a polarização é do
tipo defensivo e é motivada pelo medo recíproco freqüentemente
inconsciente, mais a relação pode ser considerada disfuncional
e neurótica.
O mesmo tipo de trauma infantil pode ter um comportamento
regressivo ou progressivo em função de qual dos medos predomina
e ao estilo do indivíduo em questão.
O parceiro progressivo reforça o comportamento
regressivo do outro. Esta estratégia promove no primeiro sentimentos
de superioridade, domínio de si e auto estima permitindo ao mesmo tempo
a negação de fantasias regressivas que são delegadas ao
outro. O parceiro regressivo, por seu lado, procura a satisfação
das próprias necessidades de segurança, dependência e cuidado
reprimindo as instâncias progressivas da própria personalidade.
Assim, no interior deste acomodamento reciprocamente defensivo qualquer membro
do par delega ao outro aquelas emoções e aqueles comportamentos
dos quais tem mais medo; o parceiro progressivo pode, por exemplo, ter medo
de ser ridículo ao mostrar as partes de si mais regressivas, e o outro
pode entrar em angústia ao descobrir não precisar mais das funções
progressivas do primeiro. O parceiro progressivo pode pensar ; "posso comportar-me
de maneira assim autônoma porque você precisa de mim " e o
outro obviamente pensa de maneira absolutamente complementar ( Figura 1).
Fig. 1 - As dinâmicas progressivo-regressivo
no conflito do casal
Parceiro A |
Circuito Interativo |
Parceiro B |
|
Assume para si o papel regressivo: |
Escolhendo um parceiro |
Assume para si o papel progressivo: |
|
Débil Passivo Influenciável Dependente Idealiza o parceiro |
Posso comportar-me assim regressivamente porque você... |
Posso comportar-me assim progressivamente porque você... |
Amável Ativo Solícito Que guia Autônomo Pede elogios |
|
|||
Nega e delega ao parceiro: |
No conflito |
Nega e delega ao parceiro: |
|
Capacidade de ocupar-se Cuidado Atividade Solicitude Fazer-se de guia ativo Autonomia Necessidade |
Devo me transformar ainda mais progressivo porque você... |
Devo me transformar ainda mais regressivo porque você... |
Debilidade Passividade Influenciabilida de Dependência Idealização do parceiro |
Os parceiros polarizam os seus modelos
de comportamento no interior de um ambiente constituído de um tema recíproco
Os membros de um par podem sentir-se atraídos e ao mesmo tempo afastados
de um tema que pode ser ao mesmo tempo fascinante e perturbador. A polarização
funcional dos papéis conduz a posições nas quais os parceiros
se integram e se completam um com o outro sob o mesmo nível relacional.
Em um casal com uma estrutura oral, o amor é definido em termos de fornecer
cuidados e atenção. Díade sádico - anal são
caracterizadas por temas que giram em torno do binômio autonomia - dependência.
Num nível fálico o amor tem o significado de obter e fornecer
prestígio social enquanto a relação narcísica é
caracterizada pela tensão versus a harmonia e simbiose. Esses temas constituem,
muitas vezes inconsciente, a base sobre a qual se estrutura a relação
de casal.
Medos similares podem levar a construção
de um sistema organizado de forma reciprocamente defensiva, voltando assim a
permitir nos parceiros a neutralização destes medos, a compensação
a respeito dos desentendimentos súbitos , o evitamento ou a capacidade
de dominar a situação ameaçadora. Isto pode derivar, como
conseqüência, uma colusão, um jogo inconsciente e recíproco
dos dois baseado nos seus conflitos similares não resolvidos e acionados
através dos seus papéis polarizados.
O emergir dos medos e das necessidades reprimidas leva à escalada dos conflitos
A estabilidade da estrutura defensiva
do casal é continuamente ameaçada pelo ressurgimento das necessidades
e medos reprimidos.
O parceiro regressivo teme romper a relação
se comportar-se de maneira mais autônoma e independente, deste modo não
fazendo outra coisa senão encorajar o outro a perseverar no comportamento
ativo de cuidado e proteção. De modo similar o parceiro progressivo
evita cuidadosamente comportar-se de maneira regressiva reforçando desta
forma o comportamento regressivo do primeiro. Reciprocamente, por esta razão,
e freqüentemente de maneira implícita, qualquer membro do casal
define o papel do outro no interior da moldura constituída pela construção
defensiva da díade.
Nascimento, licenças, doenças, morte
e outras vicissitudes ameaçam seja o comportamento regressivo ou o seu
oposto. Nas relações funcionais, os papéis do casal são
constantemente redefinidos, qualquer membro compensando pelo outro, de modo
que os vários problemas encontrados são resolvidos mudando a posição
dos cônjuges em relação ao binômio progressivo-regressivo.
Esta flexibilidade permite ao casal adaptar-se e crescer.
Os modelos de comportamento dos casais muito neuróticos
são muito rígidos. Em uma relação deste tipo trocar
papéis significa romper a construção defensiva recíproca
e fazer emergir como conseqüência os medos reprimidos. As díades
neuróticas tem um nível de adaptação muito baixa,
uma modesta capacidade de crescer, e podem tornar-se muito facilmente disfuncionais.
No aspecto que são ameaçados tendem a polarizar sempre mais o
comportamento, excedendo no comportamento usual ou atuando a negação
inicial de complementaridade dos papéis.
Como é demonstrado na tabela I , um comportamento
que originalmente pode ser complementar pode transformar-se em disfuncional
se colocar em movimento o mecanismo acima descrito: um parceiro débil
e indefeso pode transforma-se numa pessoa insaciável e ingrata : um outro,
já passivo, pode transformar-se numa pessoa absolutamente negligente
e provocatoriamente ativa. Para manter o equilíbrio relacional, a provocação
produz uma contra provocação, iniciando um círculo vicioso
e um mecanismo de escalada, e então os parceiros perdem o controle do
processo. O comportamento deles torna-se sintomático no esforço
de encontrar um acordo entre a tensão neurótica e a defesa. Mas
este tipo de escalada é devido também a exageração
do comportamento dos parceiros. Aquele regressivo pensa : "devo me transformar
ainda mais regressivo porque você é assim progressivo" e vice
versa.
Os exagero da polarização progressivo-regressivo
leva a um comportamento disfuncional e defensivo.
Cada tentativa de derrubar esse mecanismo produz
ansiedade e encontra notável resistência. Tensões excessivas
podem levar a formação de sintomas, coalizões e também
a separações na tentativa de recalibrar o sistema.
Relações narcisísticas-simétricas
O seguimento realizado em casais que estiveram em terapia de 5 a 16 anos, mostrou que os parceiros apresentam ainda desordens de caráter do tipo neurótico, mas tem aprendido a manejar esta tendência dentro das relações de modo a prevenir o aparecimento de escaladas destrutivas. Não entraram em colusão, não deram vida a interações nas quais um dos membros é constrangido a ter um comportamento sempre mais regressivo ou seu oposto, forçando o outro na posição complementar. São situações de aceitar necessidades regressivas sem nem frustrá-las nem reforçá-las demais, assim como são capazes de evitar responder as necessidades neuróticas do parceiro sem ser por este excessivamente atraído, fascinado, ameaçado ou ansioso pelo outro. A relação com o parceiro pode por isso corrigir o comportamento neurótico individual, na medida em que permite aos dois aprender a suportar a frustração das suas próprias necessidades e a falta de resposta aos seus desejos.
Aplicações Terapêuticas do Conceito de Colusão
A terapia baseada no conceito de colusão tem como objetivo a reestruturação dos modelos de interação entre os parceiros, através de um melhoramento da demarcação dos confins intra diádicos e extra diádicos e a despolarização dos comportamentos referentes aos extremos progressivo-regressivo. Qualquer membro do casal será ajudado a entrar em contato com partes de si reprimidas e delegadas ao outro. Não é o objetivo principal deste tipo de terapia resolver os conflitos profundos e fixações neuróticas.
Demarcação dos limites
Analogamente às observações
de Minuchin sobre estruturas familiares patológicas, rígidas ou
difusas (10,11), limites rígidos ou difusos se encontram em quase todos
os casais que vem para a terapia (14,16,17).
Nos nossos dias é muito difícil
obter uma clara organização de casal porque também os psicoterapeutas
contribuem na procura do ideal irrealizável.
Como exemplo : existem pessoas que fazem difícil
sua própria vida, conduzindo aquilo que é chamado "casamento
aberto". Na terapia freqüentemente negam o ciúme e a dor, causados
pela relação do parceiro com uma terceira pessoa e é por
vingança, e não por necessidade, que freqüentemente encontram
uma terceira pessoa, entrando assim em escalada recíproca.
Tudo isso pode ser agravado pela presença
de um terapeuta que propõe a abertura absoluta, sinceridade de sentimentos
e fantasias e procura a realização de uma relação
muito íntima. Mas a diferenciação das personalidades dentro
do casal necessita de uma clara delimitação do espaço de
cada parceiro, dentro da sua possibilidade de abrir-se e compartilhar. Os membros
de um casal deveriam ser instados a comunicar sobre qualquer coisa referente
a sua relação, mas devem também poder aceitar as necessidades
de uma área pessoal e privada em outros campos. Toda pessoa tem o que
fazer em determinadas áreas que mais facilmente compreensíveis
aos estranhos que ao próprio parceiro.
A definição sistêmica de um
casal inclui a distinção da relação do casal das
outras relações diádicas. Outros encontros transitórios
podem ser intensos e também enriquecedores a nível pessoal e sexual,
mas são sempre diferentes de uma relação conjugal.
A despeito do alto número de divórcios,
o casamento é ainda pensado em termos de projeto "para a vida"
tendo, por isso, uma realidade própria e uma história própria.
TABELA I
Os exagêro da polarização progressivo-regressivo leva a um comportamento disfuncional e defensivo
PARCEIRO A: REGRESSIVO |
PARCEIRO B: PROGRESSIVO |
||||
Funcional no início |
Transforma-se disfuncional sob stress |
Funcional no início |
Transforma-se disfuncional sob stress |
||
Provocatariamente ativo: |
Provocatariamente refutante |
Provocatariamen-te ativo: |
Provocatoriamente refutante |
||
regressivo oral débil |
explorador |
recusa a ajuda |
progressivo oral solícito afetuoso |
Excessivamente solícito e afetuosos |
exausto chantagista |
regressivo anal passivo influenciável dependente |
negligente |
provocativo autônomo e emancipado |
progressivo anal ativoque segue autônomo independente |
tirano |
obstinado teimoso |
regressivo fálico "feminino passivo" |
manipulador intrigante |
"castrante" |
progressivo fálico "falico" |
"superman" |
Impotente |
regressivo narcisista, idealizante |
servil escravizado |
Tirânico chantagista |
progressivo narcisista necessitado de admiração e idealizações |
excessivamente egocêntrico |
evita todo compromisso e toda a responsabilidade |
Para estar de acordo não é necessário que a personalidade dos parceiros mude, mas é indispensável que estes aprendam a aceitar o outro com seus limites; isto, no interesse dos dois, evitando entrar no círculo vicioso que leva unicamente à falência da relação. A demarcação dos limites claros e a organização sistêmica da relação portanto, acompanham o trabalho sobre medos da perda e da união da qual se defendem com o comportamento disfuncional.
Reequilíbrio na Polarização Regressão-Progressivo
Objetivo terapêutico muito importante é
a ruptura da colusão e o balanceamento do comportamento polarizado. Todo
parceiro deve estar em condições de tomar posições,
regressiva/progressiva sobre diversos temas e agir, conseqüentemente, de
maneira adequada e flexível. Isto acontece, normalmente, evitando a possível
destrutividade inserida no confronto entre os parceiros, sustentando os aspectos
positivos dos comportamentos regressivo-progressivo.
A redefinição é um instrumento
muito útil por criar um clima terapêutico positivo; o terapeuta
pode, por exemplo, redefinir o excessivo (progressivo) controle como preocupação
e o recolhimento depressivo (regressivo) como sensibilidade nos confrontos dos
problemas relacionais que o casal apresenta. Eles podem também desafiar
indiretamente os parceiros afirmando que eles se ajudam demais um ao outro,
sobrecarregando-se assim de um peso difícil de suportar. A criação
de uma atmosfera terapêutica positiva e construtiva permite pois a prescrição
de tarefas de casa que tem sempre como objetivo diminuir a polarização.
Para um terapeuta individual pode ser difícil
pedir a um parceiro regressivo para comportar-se de forma mais progressiva já
que este tipo de terapeuta tem aprendido a obter uma regressão (terapêutica)
ainda mais sensível do que aquela apresentada no início pelo paciente.
Ao meu ver, todavia, comportando-se de maneira mais autônoma as pessoas
rapidamente conseguem um mínimo de auto estima e são portanto
mais motivadas para o prosseguimento da terapia.
A relação com o membro progressivo
pode apresentar maior dificuldade no momento em que freqüentemente este
tipo de pessoa tende a entrar em simetria com o terapeuta propondo-se como co-terapeuta.
A empatia e o contínuo suporte por parte
do terapeuta facilitam a troca comportamental e cognitiva do parceiro progressivo.
Para os comportamentistas e os terapeutas sistêmicos,
promover o insight é pelo menos inútil senão destrutivo
(5,5,7,15,16,18,19,20).
Com base na minha experiência clínica
posso afirmar que é muito útil trabalhar sobre a base dos conflitos
e das dinâmicas intrapsíquicas da situação atual,
em particular com casais ambivalentes com relação à terapia.
Existem pessoas em condições de
transferir o insight para a história do casal e transformar a dinâmica
atual em mudanças de comportamento. A estrutura sistêmica conjugal
influencia a dinâmica psíquica do casal, assim como a dinâmica
intrapsíquica influencia a estrutura.
A importância do conceito de colusão
reside na esfera maior dos problemas diádicos e confere uma notável
flexibilidade de um amplo espectro de possibilidades de intervenção
na terapia.
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Terapia Familiare
Rivista interdisciplinare di ricerca ed intervento relazionale
N. 23 - Março 1987
Tradução
Danilo Rosset
Fevereiro-1998