Processo nos tempos modernos

Solange Maria Rosset

 

No tempo da minha avó, levava-se 3 dias para ir de Guarapuava a Curitiba. Tudo era muito demorado, e as pessoas sabiam que precisavam obedecer o tempo necessário para as coisas acontecerem. Muita coisa mudou de lá pra cá. E hoje estamos condicionados à rapidez das máquinas, dos deliveries, dos descartáveis.

Muitas vezes, queremos essa rapidez nas nossas aprendizagens, nas nossas mudanças, no controle das nossas compulsões. E, quando isso não acontece, pensamos que somos nós que não estamos funcionando direito, ou que alguém nos atrapalhou, ou que não estamos com sorte.

Muitos sintomas atuais são desencadeados ou piorados por essa menos valia que acomete o homem moderno por perceber que não consegue a mesma rapidez que tem nas conquistas externas nas suas conquistas internas. E assim, a ansiedade e insegurança vão aumentando e, como uma bola de neve, pioram os sentimentos e a conquista interna se torna mais difícil e mais distante.

Se não compreendermos que toda aprendizagem, que toda mudança, que todo controle de compulsão é um processo, não vamos ter a paciência, a esperança e a auto compaixão necessárias para essa tarefa.

As vezes ela é mais leve e rápida, mas na maior parte do tempo ela é muito árdua, muito lenta e cheia de recaídas.

Processo é uma sucessão de etapas que devem ser vencidas uma a uma; e é recheado de idas e vindas; precisa de tempo de maturação; não acontece aos saltos.

Se nos alegrarmos e vibrarmos por cada degrau vencido, teremos energia para os momentos de parada ou recaída, mas, se ficarmos sofrendo, só olhando o que falta para chegar ao fim, certamente vamos nos desesperar e desistir quando tivermos um mau momento.

Compreender que a conquista interna é um processo é o primeiro passo, mas só vai funcionar se vier acompanhado da consciência de que a responsabilidade é só sua. Os outros até podem querer ajudar, mas só você é quem vai aprender, mudar ou se controlar. E só a partir desses dois elementos que de fato o processo se inicia.  E esse processo vai acontecer controlando e perdendo o controle, percebendo que vai fazer mas ainda fazendo, perceber e conseguindo controlar, percebendo e podendo escolher. E com essas repetições e repetições terá aprendido, mudado, controlado sua compulsão.

E estará pronto para as recaídas.

Mas, aí serão outros quinhentos, como diria aquela minha avó.

E será outro artigo!

*Texto publicado no caderno Viver Bem da Gazeta do Povo, domingo, 2/6/2013