PSICOLOGIA DO PARTO

Solange Maria Rosset

1983.

 

O parto tem, para os pais, e principalmente para a mãe, um significado muito importante que é o de entrega do filho para o mundo. Durante nove meses o contato era permanente: o filho era dos pais, da mãe, e agora ele terá que viver para os outros, cada dia mais independente deles.

Para a mulher, a situação do parto reaviva antigas ansiedades ligadas à menstruação, à sua própria sexualidade e ao nascimento de irmãos. Estas ansiedades sempre aparecem em todas as mulheres em maior ou menor grau, com maior ou menor consciência do fato. Esta variação dependerá do ambiente em que ela vive, das situações objetivas e emocionais que evolvem o nascimento do filho e principalmente do seu desenvolvimento psíco-sexual.

O momento do nascimento é de suma importância para o bebê e para a mãe. Para o bebê é o clímax de todo um processo. Desde o terceiro trimestre da gestação ele está sentindo as contrações do útero. De início sente-se como uma brincadeira, como um carinho; ao se aproximar o nascimento elas se avolumam, e o que era brincadeira passa ser uma guerra - ele é empurrado, comprimido. O estado de plena satisfação deixa de existir, e ele conhece o sofrimento da luta para sair. Para o bebê é importante que ele lute para nascer, e que passe pelo canal de parto vivendo cada uma das suas fases. O nascimento, com seu significado toleravelmente traumático, deve ser respeitado, pois origina uma série de processos em cadeia que conduzem à adaptação às condições do mundo exterior. Pesquisas já comprovaram que os bebês que lutam para nascer serão pessoas que lutarão para alcançar seus objetivos, serão persistentes e alcançarão seus ideais.

Durante o processo de nascimento por parto natural, o bebê recebe muita estimulação cutânea, que é fundamental para o seu bom desenvolvimento físico e emocional.

O caminho do nascimento é de lutas, e no momento em que sai para o mundo o bebê está assustado, dolorido, perdido. Imediatamente conhece o mundo das contradições. Saiu de um espaço que o continha e encontra um espaço aberto; saiu do calor e do líquido para o ar e o frio.

Para a mãe, a mudança também é forte e brusca. De um momento para o outro ela deixa de ser continente do seu filho. Ela fica confusa, perde a identidade.

As condições do parto e o que acontecer nos primeiros momentos após, poderão diminuir sensivelmente o sofrimento físico e emocional da mãe e do bebê, ou poderão aumentá-los tremendamente. Se o parto for natural, sem interferências desnecessárias, a mãe poderá "trabalhar" para o nascimento de seu filho; ela se sentirá útil e realizada por ajudar a completar o processo total. Ela estará consciente do que acontece e do que sente, e em condições de receber bem o bebê. Ninguém há melhor que a mãe para realizar esta tarefa.

Deixando de realizar o corte imediato do cordão umbilical, o bebê entrará suavemente no mundo, respirando tranqüilamente de acordo coma capacidade inicial do seu pulmão. Não será agredido pela falta de oxigênio que o corte precoce do cordão traz, nem sentirá a eminência da morte que o obriga a respirar. Ele receberá o oxigênio pelo sangue do cordão umbilical e o que vai entrando com o ar que aos poucos vai respirando. Ele terá tempo e condições para se adaptar. Se for permitido que a mãe entre em contato imediato com o bebê, as ansiedades serão menores, pois o seu filho, que antes estava dentro, pele a pele, estará em seus braços, mas pele com pele. A mãe e o bebê se beneficiam com isto. Durante o nascimento do seu filho, a mãe (e todas as pessoas que estão junto a ela) revive inconscientemente seu próprio nascimento; se as condições forem melhores , ela poderá reparar suas próprias dificuldades.

Isto tudo é real; isto acontece. O que acorre também, é que hoje a situação de ter um filho perdeu seu caráter natural. Isso aconteceu devido ao grande avanço tecnológico que pode prever e evitar dores e dificuldades, mas também porque se perdeu o hábito de se emocionar, de vibrar com as coisas naturais, de confiar na intuição. E para a mãe, pressionada por estas situações, fica muito difícil sair da "roda viva". Deixar de ver o nascimento de um filho como algo terrível, doloroso e incômodo, e vivê-lo como uma tarefa ativa, natural e gratificante, só é possível para uma mulher consciente e preparada. Os trabalhos de preparação para o parto existem para que ela conheça o que vai acontecer, e esteja física e emocionalmente preparada para desempenhar sua função. Não só a mãe como também o pai, pois neste momento o papel dele é sumamente importante. Se ele estiver preparado, tiver compartilhado com a mulher as emoções da gestação, ele acreditará nas condições de maior felicidade e melhor saúde mental para sua mulher e seu filho. Por este acontecimento tão importante, em termos emocionais, é que cada dia é maior o número de especialistas que se dedicam ao assunto e se propõe a melhorar as condições emocionais do nascimento, e maior é o número de pais e mães que lutam para conseguir um modo melhor para o nascimento dos seus filhos. Pois, não há mais dúvida de que quanto mais afetivo e tranqüilo for o nascimento, melhores serão as pessoas e melhor será o mundo de amanhã.