Queixas da mulher frequentemente escondem desejo de reconhecimento

Solange Maria Rosset

março de 2009

 

A vida delas sofreu muitas mudanças nos últimos tempos e em meio às numerosas tarefas e papéis que se impõem algumas se sentem abandonadas e incompreendidas. Um parceiro que tenha sensibilidade para perceber tal ansiedade pode tentar reagir, valorizando os esforços empreendidos pela companheira. Assim, ela se sentirá melhor e poderá dar muito mais à união.

 

Nas últimas décadas, a mulher mudou tanto e tão rapidamente de atividades, espaços e rótulos que nem sempre consegue assumir, na relação de casal, todas as suas potencialidades e possibilidades. Muitas vezes, no afã de dar conta de ser mãe, dona de casa, profissional, amante, fica presa na armadilha da autoexigência e da culpa. E, como ocorre sempre que alguém se sente cobrado e culpado, acaba desencadeando comportamentos de defesa e ataque. Assim, abre espaços para ser realmente criticada e cobrada. Aumenta a sensação de abandono, de sobrecarga e de incompreensão. Esses sentimentos podem impedir que a mulher leve para a união características femininas de novidade, movimento e leveza.

Para sair da correria e da ansiedade que a roda-viva de tarefas, expectativas, desejos e obrigações impõe, ela precisa sentir-se competente e amada. Toda mulher gosta de ganhar carinho, de ter com quem conversar, de ser entendida, elogiada. Gosta também de sentir-se bonita e querida. Amigos e a família podem suprir essa “demanda”, mas nada melhor do que um namorado ou marido amoroso e qualificador para preencher tal requisito.

Quando o casal está no início do relacionamento, é fácil para os parceiros dar carinho e estar disponível para as necessidades do outro. Da mesma forma, é fácil ser amoroso se tudo corre bem, se ambos estão descansados e tranquilos. Com o passar do tempo e o acúmulo de desencontros, as carências não supridas vão machucando mais, e se perde a visão do outro e de sua realidade.

Um homem que compreenda isso tem mais condições de se exercitar em olhar a mulher sem a viseira das próprias necessidades e desejos não atendidos e trazer à tona aspectos  que poderão reativar e recriar o interesse e o encantamento da relação. Com sua atitude, incentivará a mulher a também oferecer ao relacionamento aspectos que podem o enriqueçam.

Tentar “ouvir” o que está por trás das frases repetidas com insistência e procurar enxergar o que a mulher precisa e não encontra espaço para pedir são bons métodos para conhecê-la melhor e ajudá-la a ser mais feliz. Um homem que tenha contato com a própria sensibilidade saberá enxergar os sentimentos e as dificuldades embutidas nas queixas, nas desculpas e nos sinais de infelicidade da parceira. Se ela reclama que tem muito para fazer, talvez esteja querendo dizer que gostaria da companhia dele em algumas de suas atividades, ou que adoraria se ele valorizasse o ela faz, ou, simplesmente, que saiba que é ela quem dá conta daquelas tarefas todas. Talvez só esteja querendo ser reconhecida. Se ele olhar a situação sob esse ângulo, verá que não custa nada elogiar e agradecer. Ou fazer qualquer outro movimento de qualificação.

Se o homem aproveitar essas reflexões e olhar a mulher amorosamente, terá condições de ver –  além da rotina, das dificuldades e das diferenças –  uma pessoa que acrescenta experiências e sentimentos na sua vida. Isso talvez mude não só a relação, como também as pessoas envolvidas nela.

Um casal que atenta para tais aspectos do relacionamento e altera a sua mecânica – ele mostrando o desejo de compreendê-la, auxiliá-la e qualificá-la, ela aceitando a forma que ele escolhe para fazer isso –, cria novas possibilidades relacionais de crescimento e de descobertas que só enriquecerão a ambos.