Reflexões sobre Infidelidade*

Solange Maria Rosset

dezembro de 2017

 

Toda vez que falo sobre traição conjugal ou amorosa fico muito surpresa com a variedade de situações, ideias e verdades que cada pessoa e cada casal tem sobre o assunto. Torna-se, então, importante lidarmos com estas questões com a mente aberta e sem julgamentos. O que é comum em todas as situações é que a infidelidade ou traição traz uma dor aos envolvidos. Eles podem sofrer e reagir de forma mais racional, ter crises emocionais, se vingarem, desistir da relação; mas sempre será com certa dor e sentimento de que algo falhou, de que houve um rompimento de um acordo, uma quebra de confiança.

Toda pessoa que está num relacionamento deveria refletir e ter uma ideia dos seus sentimentos, valores e verdades do que é uma traição e do que não é, bem como suas definições emocionais, morais e práticas com relação a esse tema. Ajuda muito saber também como são esses itens para o parceiro. Todo indivíduo viveu próximo a um casal, sejam seus pais, sejam substitutos, e as vivências que teve na infância e na adolescência impregnam suas crenças pessoais. Se traição era uma constante, se isso era explícito ou escondido, se havia uma rotina de se ter um álibi para as traições, se isso trazia sofrimento, brigas, ataques e retaliações, se havia uma crença de que um era vítima e o outro o bandido, são algumas das mensagens subliminares que são passadas, e que definem o que cada pessoa vai crer e fazer estando numa relação de casal.

Ter uma conversa franca abre um espaço de entrega e intimidade para o casal. Mas é importante que seja uma conversa do par com o objetivo de fortalecer a relação, e nunca uma exigência unilateral com o fim de ataque e controle. Ter consciência do que acredita que pode desencadear uma traição é tão importante quanto as ideias que tem sobre infidelidade. Enxergando essas crenças dos fatores desencadeantes pode-se mapear os acontecimentos, responsabilizar-se pelo que individualmente se faz ou se evita, e sair da fantasia para administrar a realidade, possibilitando que os dois juntos vejam o que é do funcionamento individual de cada um, e de como o funcionamento do casal neutraliza ou acelera esses fatos. Poderão estabelecer atitudes e acrescentar movimentos na vida conjugal de forma a evitar que situações de traição ocorram com facilidade.

Existem pessoas que têm uma facilidade ou uma compulsão em ser infiel, e, nestes casos, é importante que seja avaliada sua responsabilidade nessas situações. Existem muitos álibis para “explicar” e “permitir” a infidelidade e as traições, desde a flexibilização moral da sociedade, passando pelas “morais” familiares e dos grupos de convivência, até traços de personalidade ou características pessoais. O importante é que a pessoa infiel possa enxergar seus álibis, responsabilizar-se pelo seu comportamento e pelas consequências.

No processo de lidar com a traição é muito importante tomar contato com a própria dor, tomar contato com a própria dor, tomar consciência da raiva, da culpa. Pois esses sentimentos são comuns aos dois envolvidos. É prudente não sair contando do ocorrido para amigos e familiares, pois ficarão vulneráveis às opiniões externas. Assim o casal poderá agir e reagir como for possível, e após o momento mais crítico, poderá tomar atitudes e decisões e definir o futuro.

*Texto publicado na Coluna Amor da revista Caras, edição 1256 de 1/12/2017