Relação pais e filhos na quarentena e pós-quarentena

Solange Maria Rosset

janeiro de 2021

 

Para um terapeuta de famílias, que está constantemente refletindo sobre o que ajuda e o que dificulta a relação entre os membros das famílias, é inevitável olhar as situações desencadeadas no momento mundial da pandemia e da consequente quarentena pensando como auxiliar essas famílias e como fazer bom uso dessa experiência para aprimorar as relações e os indivíduos no futuro próximo.

A quarentena trouxe, sem dúvidas, maiores dificuldades para os pais, exigindo que desempenhassem tarefas e tivessem vivências que não estavam acostumados. O excesso de tarefas de manutenção, atividades com os filhos e exigências profissionais deixaram muitos pais inseguros, com emoções fora do controle, além de cansados. Outra questão é que, o que não foi feito ou aprendido na antiga vida normal, vem à tona, trazendo novas dificuldades.

Os maiores problemas na relação pais e filhos vividos na quarentena são ligados aos seguintes temas:

- Espaços misturados e intimidade excessiva;

- Descoberta de quem é realmente meu pai, meu filho, meu/minha parceiro/a;

- Confusões entre papéis de pais e de cônjuges;

- Sem segurança, sem controle, sem projeto.

Na quarentena, cada família vai ter suas facilidades ou dificuldades, dependendo do seu padrão de funcionamento. Mas, é um momento importante para que todos reflitam, à partir das dificuldades, realizando aprendizagens e treinamentos que sejam uteis não só neste período difícil, mas principalmente para chegarem no pós pandemia com uma bagagem e experiência relacional mais forte e mais útil.

Entre essas aprendizagens, a mais importante é a relativa ao bom desempenho das funções parentais. Nutrir, Conter, Orientar, Dar liberdade e autonomia de acordo com a idade e prova de competência são tarefas e responsabilidades dos pais. Estando o tempo todo juntos, e com situações estressantes, fica claro a importância dessas funções e dos pais se empenharem nelas.

Outras aprendizagens, que chamo de aprendizagens sistêmicas básicas, têm a família como local e forma de se definirem. Essa convivência forçada facilita que essas aprendizagens familiares sejam vistas e redefinidas.  Entre elas, as principais são: Pertencer e separar; Rejeitar e ser rejeitado; Aprender com os filhos; Lidar com a  Solidão; Dar e receber; Exercitar a Privacidade, Limites e Intimidade.

Outros treinos importantes podem ser desencadeados, para melhorar as relações agora e aprofundá-las no pós-pandemia. São eles: ter contato com as suas emoções e as emoções dos outros; saber que só se ensina o que se vive; lidar com impulsos e compulsões; viver no presente; enxergar o padrão familiar e as possíveis aprendizagens.

Estas possibilidades podem fazer muita diferença, trazendo aprendizagens e prazeres relacionais que além de auxiliar todos a viver melhor esta fase difícil, poderá enriquecer todas as relações para depois desta quarentena.