Relacionamento de casal e família de origem

Solange Maria Rosset

 

Pais, irmãos e outros parentes não desaparecem da vida das pessoas no momento em que  elas se casam. Por isso a dupla que resolve viver junto precisa decidir como quer que seja o seu relacionamento e o do parceiro com as duas famílias das quais vieram. Isso deve ser discutido abertamente, de forma a evitar complicações algumas vezes irreversíveis para a relação.

Quando duas pessoas se casam estão entusiasmadas com as coisas boas que têm em comum, com os projetos, com o prazer de começar uma vida juntos. Raros são os casais que nessa hora conseguem pensar em outros ângulos da relação e conversar, por exemplo, sobre suas famílias de origem e os  problemas que podem surgir delas. Essa conversa é muito importante para o bem-estar da relação.

Mesmo conscientes de possíveis dificuldades em sua própria família ou na do outro, muitos tendem a acreditar que depois do casamento tudo se resolverá naturalmente. Ou, o que é pior, esperam que o outro mude de atitude, que passe a agir com relação às duas famílias da forma que acreditam ser a melhor.

As diferenças entre as famílias de origem tanto podem ajudar a enriquecer a união e abrir novas possibilidades na forma de organizar a vida do casal quanto desencadear uma guerra na qual cada um defende a sua família e critica a do outro. Por isso, o casal precisa olhar com calma para as dificuldades que cada um tem com a sua família e com a do outro e discutir sobre as expectativas de ambos em relação ao comportamento do parceiro nesses relacionamentos. É necessário que façam contratos claros, nos quais talvez um precise abrir mão de prerrogativas pessoais para colaborar na definição de uma forma tranquila de o casal se relacionar com pais, irmãos e outros parentes. Algumas posturas podem ajudar na condução dessa situação:

* Cada um pode falar mal da própria família, mas não da do outro. Quando alguém se queixa da sua família está procurando compartilhar sentimentos, ser cuidado na sua dor, receber colo, compreensão. Se o parceiro aproveita a deixa e aponta os erros da família do outro, perde a chance de ser um bom companheiro e força o cônjuge a voltar a fazer parte daquela família, protegendo, defendendo, explicando. A relação passa a ser de opostos e não de parceiros que se fortalecem nas dificuldades.

* Um não deve usar questões que o outro compartilha para afastá-lo da família dele. O bom parceiro não aproveita os desabafos do outro para, nas horas de brigas, utilizá-los para jogá-lo contra a própria família.

* Um não deve usar os segredos do outro ou a semelhança com sua família contra ele. Certas informações são muito delicadas e não podem se transformar em argumento pelo outro para fazer valer sua vontade. Isso deteriora a intimidade e a possibilidade de formação de uma nova família, com novas pautas relacionais, criadas a partir do que se gosta e do que não se gosta nas famílias de origem.

* É preciso ter paciência, respeito, compreensão e compaixão. Estes são sentimentos/posturas que, se treinados, transformam as relações familiares num espaço de crescimento. Treiná-los com a própria família é tarefa difícil, mas muito importante; treiná-los com a família do cônjuge é mais difícil ainda, mas é também uma forma de fazer a vida em comum valer a pena!

Se os parceiros souberem dessas possibilidades e tomarem esses cuidados poderão prevenir dificuldades com a família da qual vieram e com a que estão construindo.

 

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 936  de 14/10/2011