Relações de Casal e as Expectativas

Solange Rosset

 

Quando a felicidade de um depende da atitude do outro é sinal de que a relação não vai bem. O ideal é que ambos saibam usufruir o que o parceiro tem para lhe dar sem criar expectativas, que acabam resultando em frustrações. É necessário que o casal saiba avaliar o que torna um dependente do outro e então mude esse comportamento. Os dois podem se ajudar nesse processo.

Trabalhando com casais por muitos anos, sempre precisei lidar com o tema das expectativas que um tem em relação ao outro, pois o padrão de esperar que se realizem -- que o parceiro faça ou seja aquilo que se idealiza --, é um dos componentes que mais atrapalham as relações. Hoje, essa questão tem estado mais consciente para os casais com os quais trabalho e gerado muitas mudanças de comportamento e reflexões.
É muito difícil encontrar um casal no qual ambas as partes sabem usufruir o que o outro lhe dá ou faz sem ficar preso na expectativa do que ele deveria lhe oferecer ou fazer. A pessoa que vive na expectativa do que o outro deve fazer, organiza sua vida centrada nele e fica completamente vulnerável na relação. Por outro lado, quem não se deixa conduzir por expectativas e está centrado em si mesmo não fica tão frágil: o que outro faz pode trazer melhoras ou pioras na relação, mas não o desestrutura.

Os casais que conseguem enxergar que suas frustrações não vêm do sofrimento causado pelo outro, mas sim das expectativas que tinham e não foram concretizadas, têm a oportunidade de usufruir integralmente tudo que o outro lhe dá ou faz. Dessa forma, melhoram a qualidade e o nível de felicidade da relação. Enquanto permanecem presos na expectativa do que desejam ou esperam do outro, as mágoas, as frustrações e os desentendimentos florescem. Aprender a viver sem expectativas sobre o outro e usufruindo tudo o que recebe dele faz muita diferença.

As expectativas depositadas no outro são disfuncionais por facilitar que comportamentos de dependência, controle e cobrança se cristalizem no relacionamento, impedindo o desenvolvimento da autonomia, da responsabilidade e das escolhas conscientes. Tendo em vista que a relação de casal é o espaço no qual aparece o pior e o melhor das pessoas, no crescimento dessa disfunção, surge a justificativa e o crescimento de atitudes que nunca auxiliam a relação, tais como mágoa, culpa, raiva, vingança.

O processo de mudança desse padrão começa quando o casal percebe que suas maiores dificuldades estão mesmo ligadas à frustração das suas expectativas. Enxergar isso é o primeiro passo para resolver a questão. Só então é possível que cada um dos parceiros veja de que formas desencadeia e alimenta esse comportamento negativo do casal. Nessa tomada de consciência, muito do trabalho é individual:

Depois disso, o trabalho terapêutico do casal se direcionará para que os parceiros experimentem novas formas de lidar com desejos e preferências sem ser depositando-os nas atitudes do outro. Então, ambas as partes poderão se auxiliar amorosamente a enxergar quando recaírem no mecanismo da expectativa e, juntas, tornarão a união mais fluida, mais leve, mais prazerosa. E, naturalmente, mais fortalecida.

* Artigo publicado na Coluna AMOR da revista CARAS 1124  de 22/5/2015