Relações familiares: madrastas

Solange Maria Rosset

Janeiro de 2016

 

Provavelmente um dos papéis mais delicados nas famílias atuais seja o de madrasta.

Com as permissões relacionais dos últimos tempos - crianças cheias de direitos e poucos deveres; pais culpados e perdidos nos limites e permissões; facilidade em se casar e se descasar; só citando alguns – este papel ficou muito estigmatizado e sem delimitações claras. O papel de padrasto também sofre de algumas dificuldades semelhantes, mas, na prática clínica tenho visto que as madrastas estão mais prejudicadas.

O primeiro cuidado a se tomar, ao decidir assumir um compromisso com um homem que tem filhos de outro relacionamento, é saber (saber mesmo!) que está entrando em um sistema que existiu e existe antes da sua presença; que ela é a nova pessoa, e que não faz parte da história. Sabendo disso, é importante avaliar qual é seu espaço nesse sistema, como que os participantes funcionam (que hábitos tem; que rotinas são organizadas; que vínculos fidelidades e alianças existem), e como é o funcionamento individual de cada participante. Desta forma, poderá ir se organizando, ocupando os espaços, redefinindo papéis, fortalecendo as novas relações.

Se os enteados forem ainda crianças, é possível que a madrasta precise desempenhar funções parentais quando estiverem na casa do pai. Para que isso não crie melindres é importante definir contratos com muita clareza com o parceiro e se possível com a mãe das crianças. Qualquer descuido poderá desencadear muitos problemas: mãe das crianças em guerra com a madrasta; crianças sem limites nem respeito; casa do pai como local de não aprendizagem e crescimento, entre muitas ouras dificuldades.

Enteados adultos merecem cuidados específicos. A relação deve ser de adulto para adulto, mas sem esquecer que para o pai, filhos serão sempre crianças!

O pai por outro lado também pode ter atitudes que auxiliem os filhos e a companheira a desenvolverem uma relação amistosa e de crescimento. Ele precisa lembrar que essa mulher é o seu amor e é da sua intimidade, mas não é o amor nem da intimidade dos filhos. É necessário fazer a aproximação aos poucos, dando tempo para que todos se conheçam e descubram espaços, atividades e cuidados necessários para a harmonia das relações. Ele também precisa preservar momentos na relação com os filhos sem a madrasta (isso é saudável mesmo nas famílias que não houve separação!), e individualmente com cada um.

O casal também pode facilitar o processo de relação madrasta e enteados, cuidando da relação conjugal. Principalmente  mantendo espaços que são só do casal (de intimidade, atividades, de projetos, de lazer) e aprendendo a ter um dialogo aberto entre eles (sem medos ou receios; sem predefinições ou preconceitos) para que possam falar sobre todos os ângulos da relação familiar, e redefinirem mudanças, acertos e contratos.

Com esses cuidados será possível construir relações com amorosidade, respeito, aconchego e limites.

Padrastos também podem fazer bom uso destas propostas!