Resiliência nos momentos de crise

Solange Maria Rosset

março de 2020

 

Num tempo em que a crise envolve a todos, os terapeutas e experts em comportamento humano orientam seu pensamento não só para a resiliência, mas principalmente, para as possibilidades de como desenvolvê-la nesse momento em que estão todos tão vulneráveis.

Resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades de modo positivo. Mas, não é só resistir, lidar e reagir durante a situação traumática, engloba também a capacidade de se recuperar das situações de crise e aprender com elas.

A resiliência envolve um processo de aceitação do que aconteceu atingindo novo equilíbrio emocional e relacional com as circunstâncias modificadas. A  experiência é vivenciada como transformadora, onde os indivíduos se  percebem mais preparados para qualquer coisa que aconteça no futuro.

No contexto psicológico é o desenvolvimento de habilidades que possibilitam melhores meios de enfrentamento, com o menor dano possível, das agressões estressoras e dos revezes sofridos.  

O indivíduo resiliente tem uma incrível capacidade de autojulgamento, e uma facilidade para corrigir os erros e defender os acertos; sabe reconhecer com rapidez e perspicácia o momento certo da luta ou da fuga com capacidade de autopreservação e sabedoria em evitar danos graves à sua vida. Outro aspecto importante é ter a mente flexível e o pensamento otimista, com metas claras e a certeza de que tudo passa.

Estas características da pessoa resiliente são inerentes ao padrão de funcionamento que o indivíduo desenvolveu, a partir das experiências na sua família de origem, mas são traços que podem ser treinados. A grande maioria das pessoas pode tornar-se resiliente se tiver vínculos e relações que a preparem para isso. Numa compreensão relacional sistêmica, o padrão familiar, trigeracional, pode ser trabalhado para a formação de indivíduos mais resilientes. Famílias com crenças repressoras que perpetuam problemas e limitam opções não ensinam para seus membros boas opções para momentos de crise; mas aquelas que encorajam crenças facilitadoras que aumentam as opções para a resolução de problemas, a cura e o crescimento desenvolvem propostas libertadoras, fortalecendo a resiliência e ajudando seus membros a acreditarem na sua própria possibilidade de regeneração.

As pessoas que não aprenderam a ter resiliência na sua formação podem desenvolvê-la quando surgirem situações difíceis na sua vida. A primeira condição para essa possibilidade é compreender o que é resiliência, e acreditar que é possível desenvolvê-la. A partir disso, podem começar a conectar com a esperança, que é o sentimento de base para treinar iniciativa, criatividade, perseverança e coragem, que são necessários para desenvolver os outros comportamentos resilientes.

Dar um sentido à adversidade que está vivendo leva à postura de que as dificuldades ou as tragédias podem ser vistas como instrutivas e podem servir como impulso para o crescimento; e isto ajuda a tomar  distância dos comportamentos de fatalismo e de vitimização.

A capacidade de analisar o contexto e levar em conta todos os lados do problema junto com a atitude de não considerar prejuízo as perdas que ocorrerem auxiliam a tomar decisões com espontaneidade e criatividade.

O espaço e o uso que a espiritualidade tem na vida da pessoa também fará diferença na hora de definir o caminho a seguir: superar as dificuldades ou ser mais uma vítima dela.