Ser e Estar na Relação com o Cliente

Solange Maria Rosset

Agosto de 2002.

 

"O mundo em que vivemos talvez seja um mundo de aparências, a espuma de uma realidade mais profunda que escapa ao tempo, ao espaço, a nossos sentidos e a nosso entendimento. Mas nosso mundo da separação, da dispersão, da finitude significa também o mundo da atração, do reencontro, da exaltação. E estamos plenamente imersos neste mundo que é o de nossos sofrimentos, felicidades e amores." Edgar Morin no prefácio de seu livro Amor Poesia Sabedoria (Editora Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1999)

As reflexões sobre as questões da relação terapêutica com o cliente, sempre fizeram parte das minhas inquietudes pessoais e profissionais.

Manter, mas não se perder nos paradoxos de ser um terapeuta que pode compreender e ter distanciamento do que é vivido pelo cliente, e ao mesmo tempo ser uma pessoa que vive uma vida real de dificuldades e batalhas, e que ao acompanhar o vivido na sessão ou pelas pessoas reedita sua história e suas vivências. Como supervisora de terapeutas em formação, tenho sempre a preocupação e o olhar atento à forma que cada um dos meus supervisionados lida com seus clientes no momento em que está enfrentando uma crise pessoal , como isso afeta sua relação com o cliente se coincide com um momento dele estar num processo semelhante, ou como lida se o que o cliente traz é o oposto; e como as vivências pessoais vão alterando suas crenças, suas propostas seus focos como terapeuta. Minha preocupação é o como cada terapeuta pode ser mais terapêutico para o seu cliente.

Ser sujeito da sua vida e auxiliar o cliente a ser sujeito da sua, mas sem fugir da responsabilidade da tarefa profissional; intervindo sem direcionar, compreendendo sem dar álibis, dando continente sem infantilizar. Poder adequar suas vivências com o padrão do cliente, com as aprendizagens que aquele sistema precisa Ter naquele momento.

Nos anos como terapeuta, e principalmente como formadora de terapeutas, fui refletindo, questionando e clareando essas questões. Hoje, creio que o melhor caminho é a tomada de consciência do seu próprio funcionamento que ajuda o terapeuta a ter discernimento do que será útil atuar com cada cliente de forma a ativar os aspectos de mudança e cura que eles trazem dentro de si. A doçura ou a firmeza, o limite ou a complacência, o compartilhar ou o silêncio, a redefinição ou a aceitação, a explicitação ou o encobrimento, serão mais úteis na medida em que o terapeuta tenha clareza de como esses temas o tocam, de como estão inseridos na sua vida, nos seus valores, nas suas crenças. E poderão ser então usados de forma mais terapêutica na relação com o cliente.

Passar pela experiência nem sempre dá mais capacidade e competência, mas certamente desenvolve a potência de ter mais compreensão e compaixão pela dor, pela dificuldade, pela incompetência do cliente.

Texto resumo da Mesa Redonda

"A Crise da Família, a Crise do Terapeuta de Família"

no V Congresso Brasileiro de Terapia Familiar

Salvador - BA

Agosto 2002