TERAPIA FAMILIAR

ORIGENS E HISTÓRICOS

Solange Maria Rosset
Tereza Christina F. Brandão Paulus
1989

 

1. Introdução

     Após anos de trabalho clínico com casais e famílias (1976), e trabalho didático na formação de terapeutas de família e casal (1981), sentimos necessidade de ter em mãos dados que nos possibilitassem de forma simples uma visão da origem e da história da terapia de Família.

 

     Ao iniciarmos a pesquisa fomos surpreendidas pela enormidade de dados e seduzidas pela aventura de mergulhar no conteúdo histórico de cada fato e de cada terapeuta precursor e/ou criador da Terapia Familiar.

 

     Para não fugirmos ao nosso objetivo de simplicidade e clareza nos limitamos ao fatos e pessoas que tiveram, pelo menos, certa importância no desenvolvimento da Terapia Familiar e da Terapia Familiar Sistêmica.

 

     Iniciamos também este trabalho com uma parte - As origens - onde relatamos alguns fatos que deram início à Terapia de Família, como técnica.

 

     Na - Resenha Histórica - trazemos as pessoas e fatos que marcaram o desenvolvimento da compreensão teórica, técnica e clínica da terapia de Família.

 

     Na terceira parte, citamos alguns autores com suas propostas de classificação dos Terapeutas Familiares. Nossa decisão de cita-los é mais como uma compreensão histórica e não como uma classificação definitiva.

 

2 - As Origens

     Don D. Jackson conta que depois de haver terminado a sua preparação analítica em Nova York, voltou a Palo Alto, sua cidadezinha de origem, onde, sendo muito conhecido e encontrando-se em um ambiente muito restrito, não conseguia manter a exclusividade da entrevista analítica com os seus pacientes. Já que lhe era fato impossível evitar o contato com os familiares, depois de uma série de tentativas infrutíferas, decide seguir o provérbio inglês: "Se não pode derrotá-los porque são muito numerosos, passe para o lado deles". Assim iniciou a ver os seus pacientes junto às famílias e logo se deu conta de que este acordo lhe abriria perspectivas de indagações e de terapia.

 

     Martin Grotjahn se encontrou frente à uma análoga dificuldade, quando a esposa de um paciente seu, irrompeu no seu consultório decidida a clarificar, a qualquer custo, alguns aspectos do caráter do seu marido que a seu ver o analista ignorava completamente. Obrigado a suportar de malgrado a sua presença, Grotjahn acaba reconhecendo que a informação recebida da mulher do seu paciente era indubitavelmente útil para superar uma fase difícil da terapia.

 

     O início do trabalho de terapia familiar de J. E. Bell, deve-se, ao contrário, a um fortuito mal-entendido. Em 1951, indo a Londres, soube pelo doutor Sutherland, que trabalhava na Clínica Tavistock com Bowlby, que este incluía a família inteira no processo da terapia. No seu retorno aos Estados Unidos, Bell adotou esta nova técnica. Só depois de muitos anos e depois de haver conseguido brilhantes resultados, vem a saber que, na realidade, no trabalho de Bowlby, cada membro da família era encaminhado individualmente a diversos terapeutas e que só, excepcionalmente, ele tinha uma entrevista com a família inteira.

 

     A. Napier, em seu livro "El Crisol de La Família"(A. Napier con A. A. Whitaker, Amarrortu Editores - Buenos Aires - 1982) relata como foi o início da Terapia Familiar, como técnica, dentro de um grande hospital para doentes mentais. Um grupo de pesquisadores que trabalhavam com os internos da Instituição foi atraído pela observação vinculada com o comportamento dos esquizofrênicos. Perceberem que quando a mãe de um paciente esquizofrênico o visitava, nos dias seguintes o doente manifestava uma aguda perturbação em sua conduta. Passaram a observar o que ocorria entre a mãe e filho durante a visita. E, para sua surpresa, viram que o paciente (ao invés de ficar desligado, como se esperava) estava fortemente envolvido numa intrincada e perturbada pauta comunicacional com a mãe. O padrão comunicacional assim descoberto é aquele que mais tarde foi denominado de "duplo vínculo". Após um tempo, onde as mães passaram a ser responsabilizadas pela doença do filho, os pesquisadores perceberam que também tinha importância as perturbações da relação pai-filho. Descobriram que nestas famílias os pais se mostravam distantes e separados dos filhos o que permitia um excessivo envolvimento destes com a mãe. Seguindo pesquisa, viram que existiam, entre os pais, dificuldades conjugais de longa data e que os episódios psicóticos dos "pacientes" estavam relacionados com os ciclos de conflitos conjugais. Os pais iniciavam uma batalha conjugal e conforme esta ia se intensificando, o filho começava a tornar-se psicótico e os pais abandonavam sua batalha para cuidar do filho enfermo. Outra descoberta foi de que quando o paciente conseguia melhorar substancialmente seus sintomas e sua vida, sem que os padrões da família mudassem, era comum outro membro da família adoecer. Passaram, então, a ver a família sob outros ângulos, e a trazer para as entrevistas toda a família do paciente.

 

     Como se vê, estas primeiras experiências de Terapia Familiar foram fruto de circunstâncias ocasionais. Todavia os fatos, mesmo que diversos e com observações isoladas, trouxeram a análogas conclusões. Então um movimento teórico-conceitual começou a formar-se testemunhando o nascimento da Terapia Familiar, no início dos anos cinqüenta, o que derivou em um intenso processo maturativo no campo das ciências sociais e da saúde, produzindo uma profunda modificação na prática.

 

3 - Resenha Histórica

     "O problema não é simplesmente o de examinar a influência exercida pela pessoa doente sobre a sã, mas também o inverso, a influência da pessoa razoável sobre a delirante, e de demonstrar como transitam uma série de compromissos recíprocos; as diferenças tornam-se eliminadas". Este trecho demonstrativo de uma perspectiva relacional foi escrito por Lasègue e Falret em 1877. (Lasègue, Ch. d Falret, J. "La folie a deux, ou la folie communiquée", Annales Medico - Psychologiques, Vol. 18. Nov. 1877)

 

     O primeiro a dar uma acurada descrição de um familiar de um paciente foi Morel, que fornece uma imagem de pai de um esquizofrênico muito próxima da que atualmente é tida como característica deste tipo de pai.

 

     Bleuler, no seu tratado sobre esquizofrenia, em 1911, nota que as famílias esquizofrênicas se encontram, com maior frequência que nas sãs, traços anormais de extrema rigidez, incapacidade de discutir e hostilidade recíproca.

 

     A concepção familiar afunda indubitavelmente sua raízes na psicanálise, e Freud mesmo - tratando o pequeno Hans (1909) mediante a intervenção dos pais - foi sem dar-se conta, o primeiro terapeuta de família.

 

     Não podemos também minimizar o valor de suas outras contribuições, universalmente importantes, que tem constituído momentos de reflexões para muitos teóricos da família. Para citar só algumas: a formulação do Édipo ("Interpretação dos Sonhos", 1899); o primeiro exemplo de relação triangular patógena no "Caso Dora" (1905) no qual é dado um notável relevo a uma série de problemáticas de origem familiar; e ainda a "Psicopatologia da Vida Cotidiana" (1901) onde demonstra que o esquecimento e outros distúrbios podem ser induzidos ou transmitidos mediante bem precisos mecanismos interativos.

 

     Para Freud, portanto, não passou despercebido a importância do ambiente familiar na gênese da neurose e sobretudo o papel dos pais dos pacientes que estavam em tratamento. "No tratamento psicanalítico, a presença de parentes é pura e simplesmente um perigo, e um perigo contra o qual não sabemos nos preparar. Estamos armados contra as resistências interiores que vem do doente e que sabemos necessárias; mas como defender-nos contra essas resistências exteriores? No que concerne à família do paciente, é impossível fazê-la atender as razões e decidi-la a conservar-se afastada de todo o assunto; doutra parte, nunca se deve entrar em acordo com ela, pois então há risco de perder a confiança do doente, que exige, e com razão, aliás, que o homem a quem se confia tome seu partido sempre e em todas as ocasiões. Quem sabe que discórdias dividem frequentemente uma família não ficará surpreendido de verificar, praticando a psicanálise, que os parentes próximos do enfermo estão amiúde muito mais interessados em vê-lo continuar assim do que vê-lo curar-se. Nos casos, aliás freqüentes, em que a neurose está em relação com conflitos entre membros da família, o indivíduo são não hesita, quando se trata de escolher entre seu próprio interesse e o restabelecimento do doente. E os senhores, naturalmente, não tardarão a observar em que medida o sucesso ou o insucesso do tratamento depende do meio social e do estado de cultura da família". (Freud, S - Introdução à Psicanálise - Obras completas de Freud, Vol. VIII Ed. Delta - R. J. - 1959 - Páginas 517 - 520).

 

     O caso de Hans apresenta um exemplo da ruptura e reconstituição patológica da homeostase familiar em seguida a mudança individual de um só componente do sistema. De fato, como conta Freud no apêndice do caso, a cura de Hans foi seguida em breve distância de tempo pela definitiva separação dos pais.

 

     Mas não só em Freud se encontra análise do processo interativo e relacional. Não se pode, por exemplo, esquecer o valor do pensamento de Alfred Adler que sustenta sempre a importância da pressão social no desenvolvimento da personalidade e que no seu trabalho considerou o homem, não como entidade isolada, mas como elemento de uma rede de relações com os outros.

 

     Significativo e determinante é, sem dúvida, a contribuição de Harry Stack Sullivan que colocou em primeiro plano o papel da dimensão interpessoal. Ele localizou a formação da patologia na relação mãe-filho (Sullivan, H. S. - "Teoria Interpersonale della Psichiatria", Feltrinelli - Milano - 1972) e não mais, como era visto até então, simplesmente nos processos intrapsíquicos de um ou de outro componente da díade.

 

     Em 1934 Kasanin, Knight e Sage, utilizando um conceito já expresso por D. Levy (1931), salientaram a super proteção materna nos confrontos do filho esquizofrênico. Partindo desta observação, Frieda Fromm Reichman (1948) chega à elaboração da sua teoria de "mãe esquizofrenizante".

 

     Precisamos recordar ainda, entre tantos, os estudos de K. Horney, C. Thompson. Mas, como a teoria familiar não é debitada só à via psicodinâmica, pode antes ser vista como um fruto da confluência de numerosas e heterogêneas epistemologias. Acenamos aqui, brevemente, a importância da teoria de comunicação (G. Miller) e dos sistemas ( von Bertalanffy); a teoria dos grupos cuja influência é evidente na obra de muitos terapeutas que lidam com a família como um grupo (G. Ammon, p. ex.); sobre os grupos de casais (J. Framo); e sobre grupos de famílias (P. Laquer); à psiquiatria infantil (desenho da família, ludoterapia, etc); ao psicodrama (simulação e jogos); Virgínia Satir; escultura familiar (D. Kantor, R. Simon, P. Papp); à terapia gestáltica (D. Kempler); à análise transacional (E. Berne. D. Harris); à hipnose (M. Erickson, J. Haley); a antropologia, sobretudo `a obra de M. Mead e Bateson.

 

     Graças à união de todas estas contribuições e de outras ainda, que no final dos anos quarenta e início dos anos cinqüenta nasce o que Paul Watzlawich definiu "Um novo método para conceitualizar os problemas do homem". Ou seja, a perspectiva relacional familiar.

Já, em 1937, Nathan Ackerman havia escrito, aos 28 anos, um artigo com o título "A família como unidade emotiva e social", pressuposto para o trabalho futuro que o conduziu a ser o mais notório pioneiro da Terapia de Família.

 

     Ruth e Theodoro Lidz, em 1949, analisaram os relatórios sobre determinadas alterações do ambiente familiar e surgimento da esquizofrenia. (Lidz, RW; Th "The Family Environment of Schizophrenic Patient" - 1949).

 

     Em 1950, William Menninger consegue que o GAP (Group for the Advancement of Psychiatry) constituísse uma comissão de estudo pela família cuja presidência foi confiada a John Spiegel. O trabalho, no entanto, se desenvolveu somente como pesquisa sociológica.

 

     Um impulso determinante para o desenvolvimento sucessivo da teoria familiar foi dado no início dos anos cinqüenta por duas experiências de excepcional valor.

 

     A primeira é devido a John Rosen: a sua "análise direta" dos pacientes esquizofrênicos amadurece em Bucks Country na Pennsylvania. O primeiro a entrar em contato com Rosen foi Murray Bowen, seguido, pouco depois, por Bateson com o grupo de Palo Alto e depois Whitaker, Warkentin e Malone. O contato com a enérgica personalidade terapêutica de Rosen parece haver dado a estes terapeutas uma marca comum onde se identifica uma singular capacidade inventiva, uma irredutível aversão pelo conformismo terapêutico, uma atitude constantemente criativa e ativa.

 

     A outra experiência piloto, e não só para os terapeutas de família, é a de Chestnut Lodge em Rockville em Maryland onde se expunha a filosofia de Sullivan através de idéias de Fromm Reichmann, Otto A. Will, Harold Searles. Lá trabalharam Donald Block e Don Jackson, que poucos meses depois estaria no projeto de pesquisa de Bateson, sobre o duplo vínculo. Esta experiência conduzida com pacientes psicóticos de notável gravidade abre acesso da intervenção familiar na terapia com adolescentes designados esquizofrênicos. Esta abordagem já era adotada (por Bell, Ackerman e outros) nos distúrbios de comportamento infantil.

 

     Em 1951, Ruesh e Bateson publicaram um ensaio sobre o significado dos mecanismos comunicativos e sobre os aspectos das informações e de feedback interpessoal, através do qual a teoria da comunicação entra definitivamente na perspectiva familiar. Poucos anos depois, em 1956, se conclui a pesquisa que Bateson unido a Jackson, Haley, Weakland e Fry tinham conduzido por 04 anos com a formulação da "Teoria do duplo vínculo", um dos pilares das hipóteses familiares da esquizofrenia.

 

     Em 1957, Christian Mildefort, depois de ter tratado muitos esquizofrênicos, depressivos e neuróticos com as respectivas famílias, conclui o seu estudo afirmando: "Desta indagação se pode trazer a convicção de que todos os males psíquicos tem sua origem na família e que muitos componentes da família estão coinvolvidos no desenvolvimento deste mal".

 

     Em março de 1957, Spiegel organiza o primeiro congresso sobre a perspectiva familiar.

 

     No final de 1958, Ackerman completa o primeiro estudo no qual são harmonizados teoria e prática terapêutica. Dali a pouco, Murray Bowen com seus colaboradores completam uma acurada análise das dinâmicas das famílias com pacientes designados esquizofrênicos.

 

     Don Jackson, publica, em 1959, "Etiologia da Esquizofrenia" e Bowen, um artigo sobre "Terapia Intensiva da Família", no qual fala, pela primeiro vez, do seu conceito de "Triangulação", definido naquele período "tríade interdependente". Em 1960, Ackerman funda o Family Institute of New York e, em 1962 funda, com Jackson, a primeira revista de terapia de família "Family Process".

 

     Ainda no início dos anos sessenta, Salvador Minuchin inicia, em Wiltwyck, um projeto de pesquisa sobre famílias de jovens com comportamento delinquencial; esta pesquisa foi possível pela desesperada situação da população emigrante na qual nenhum tipo de abordagem tinha se mostrado eficaz: por este motivo, Minuchin decide fazer uma tentativa com as famílias. Desta experiência nasce "Families of the Slums".


     Em 1964, Virginia Satir publica "Terapia do Grupo Familiar", e em 1965, Nagy e Framo publicam "Psicoterapia Intensiva da Família", Bowen escreve, em 1966, o trabalho "The use of Family Theory in Clinical Practice" e, em 1967, sai a "Pragmática da Comunicação Humana" de Watzlawick e Jackson.

 

     O final deste período assinala a difusão e a afirmação da nova abordagem.

 

     Segue-se alguns anos de estagnação devido a uma série de deslocamentos geográficos dos terapeutas mais destacados. Carl Whitaker deixa Atlanta para transferir-se à Universidade de Wisconsin; V. Satir deixa Palo Alto e o M R I (Mental Research Institute) para ir a Esalen; pouco depois, também Haley deixa o M R I e se transfere para o Child Guidance Clinic da Filadelfia, onde Minuchin, depois de haver deixado New York, é eleito diretor e está conduzindo uma pesquisa sobre anorexia e doenças psicossomáticas.

 

     Estes deslocamentos, que seguem a morte de Don Jackson, ocorrida em janeiro de 1969, criam numerosas dificuldades no interior do M R I que por 10 anos, tinha sido um dos principais pólos de difusão da perspectiva familiar. Só, recentemente, o Instituto de Palo Alto tem podido assumir de novo uma posição de relevo por obra de Watzlawick, Weakland e Fish.

 

     Em 1971, depois da morte de Nathan Ackerman, o expoente mais significativo e importante da corrente psicodinâmica da terapia de família, emerge com intensidade, por mérito, sobretudo, de Haley e Minuchin, em Filadélfia e de Bowen, em Washington, a ótica Sistêmica.

 

     Paralelamente a isso, Howells, na Inglaterra, concluía seus estudos, afirmando a necessidade de considerar a família inteira como paciente designado como um sinal da patologia familiar. O trabalho deste autor seguia e levava as idéias de R. D. Laing ("A política da Família" - R. D. Laing - Martins Fontes -) e seus colaboradores, que em 1958 iniciaram, na Clínica Tavistock, uma pesquisa sobre a família de esquizofrênicos.

 

4 - Influências Diretas

     A terapia familiar nestes quase 40 anos de existência, desenvolveu-se e diversificou-se.

 

     Atualmente, nos mais distantes pontos do globo o trabalho com famílias e casais existe e se desenvolve, tanto teórica como tecnicamente. A cada dia novas experiências, novas correntes se organizam.

 

     Vamos traçar um perfil de terapeutas e escolas que sob a nossa ótica são importantes para o atual destaque da Terapia Familiar e para o seu desenvolvimento futuro próximo.

 

     NATHAN W. ACKERMAN - (1908-1971)

     Nascido na Rússia, vem, muito jovem para os EE. UU.. Faz formação como analista. É tido como o mais notável expoente da Terapia Familiar. Isto, devido a sua obra e as suas características pessoais. Sua obra é vasta e importante: Escreveu muito, desde os 25 anos até sua morte, sobre teoria e técnica de Terapia Familiar. Criou, junto com D. Jackson, em 1960, a revista "Family Process" que é a revista especializada mais difundida. Fundou a primeira Clínica de Terapia de Família, em New York, que depois de sua morte, passou a chamar-se Nathan Ackerman Institute.

 

     Sua forma pessoal de ser e de trabalhar lhe valeram entusiásticos elogios e fortes críticas. Era definido como exibicionista, teatral, onipotente, exageradamente agressivo, excessivamente envolvido com as famílias e ainda indubitavelmente brilhante, gênio insuperável, formidável terapeuta.

Sua terapia foi definida como manipulativa, lavagem cerebral, irreverente, além de um trabalho de bravura, e uma obra de arte. Desta forma Ackerman nos legou um exemplo de coragem e criatividade para ousar mobilizar e ajudar, realmente as famílias.

 

     MILTON ERICKSON - (1901-1980)

     Foi um hipnólogo e psicoterapeuta por mais de 50 anos.

 

     Seu consultório, em Phoenix, no Arizona, foi o centro de difusão das suas idéias e seus trabalhos, que influenciaram enormemente os primeiros terapeutas de família. O foco da sua terapia era a mudança, tornando seu trabalho eficiente e eficaz em curto espaço de tempo. Suas prescrições, envolvendo todo sistema familiar (presente ou não) e suas mensagens subliminares na terapia são duas técnicas que foram adotadas e adaptadas pelos terapeutas familiares (principalmente Haley).

 

     JAY HALEY

     A partir do contato e das experiências com M. Erickson, Haley assimila a sua abordagem aparentemente simples e essencial: seu incomum senso de humor, o gosto pela ironia frente aos problemas mais difíceis e as situações mais dramáticas, e, sobretudo, o profundo conhecimento do paradoxo e das suas implicações pragmáticas.

 

     Com estes elementos e também graças a um determinado encontro com Gregory Bateson e Don D. Jackson, chegam à "teoria do duplo vínculo".

Haley é o criador da Terapia Estratégica, cujo pressuposto é de que o elemento chave da terapia é o controle da relação terapêutica. E que este controle deve ser mantido a qualquer custo pelo terapeuta. A técnica é orientada para a resolução do problema. Junto com sua esposa Cloé Madanés, mantém e divulgam a terapia Estratégica e dirigem o The Family Therapy Institute em Washington.

 

     VIRGINIA SATIR - (1916-1988)

     Foi, junto com Don Jackson, co-fundadora do M R I (Mental Research Institute). De 1964 a 1969 foi diretora do Esalen Institute em Big Sur - Califórnia.


     Foi uma das primeiras terapeutas a ver a família toda nas sessões. Numa profissão que era predominantemente masculina, ela foi a primeira e, por um longo tempo, a única mulher a ter proeminência.

 

     Seus livros, de uma clareza e simplicidade invejáveis, são usados por todos os terapeutas de família.

 

     MURRAY BOWEN

     Um dos pioneiros da abordagem familiar, desenvolveu sempre buscando caminhar par e passo teoria e prática terapêutica. Construiu uma bem elaborada teoria sobre a diferenciação do "eu" na família.

 

     JAMES FRAMO

     Tem uma abordagem sistêmica e psicodinâmica, onde o foco é a família de origem como instrumento de terapia.

 

     CARL WHITAKER

     Criador da Terapia Experiencial da Família, desenvolve seu trabalho com base na convicção de que os pré-conceitos, o modo de viver e os valores dos terapeutas são elementos chaves na escolha dos objetivos e da estratégia terapêutica.

 

     SALVADOR MINUCHIN

     Argentino de nascimento, emigrou para EE. UU. após uma breve estada em Israel. Inicialmente viveu em New York, transferindo-se depois para a Filadélfia onde passou a dirigir o Philadelphia Child Guidance Clinic.

 

     Fundador da Escola Estrutural de Terapia Familiar, Minuchin, dono de uma personalidade carismática, está entre aqueles que combinam o rigor teórico com uma notável maestria clínica.

 

     MARA SELVINI PALAZZOLI

     Médica psiquiátrica italiana (Milão), optou pela psicanálise como instrumento terapêutico. Porém, em 1967, executou uma volta radical: fundou o Centro para o Estudo da Família (de Milão-Itália), e tornou-se terapeuta de família. Adotou o modelo sistêmico e nestas duas décadas vem desenvolvendo um trabalho constante de pesquisa e tratamento, principalmente de famílias psicóticas.

 

     MAURIZIO ANDOLFI

     Psiquiatra italiano (Roma), estagiou e ensinou nos mais renomados centros de Terapia Familiar dos Estados Unidos.

 

     Fundou a Sociedade Italiana de Terapia Familiar e a revista Terapia Familiare.

 

     Através do pensamento de Watzlawich, Haley, Whitaker e Minuchin, foi aprimorando seu próprio estilo ao desenvolver um trabalho com Terapia Familiar Trigeracional.

 

5 - Tentativas de Classificação

     A família de terapeutas de família não é, certamente, uma família homogênea. Isto ocorre devido a multiplicidade dos matizes culturais que dão vida e desenvolvimento à Terapia Familiar.


     Alguns autores se ocuparam em fazer uma classificação dos terapeutas de família. Seguem três desses autores, com as suas classificações:

 

     I - Segundo Kisker (Kisker, K. P. "Esquizofrenia e Família"), a evolução da perspectiva familiar se divide em 3 fases:

     1) - o período descritivo
     2) - o período interativo
     3) - o período sistêmico

 

     Esta divisão é uma sistematização que corresponde às fases cronológicas de uma maturação do pensamento. Há, na verdade, uma coexistência de uma fase com as outras.

     1) - Período Descritivo - O foco desta fase é a descrição do comportamento e das características individuais dos familiares do paciente designado (Kasanin, 1934 - Fromm Reichmann, 1948 - Theodore Lidz, 1949).

     2) - Período Interativo - O foco é a análise da relação e da interação comunicacional entre o paciente designado e figuras significativas da sua família.

     Neste período, rico de felizes intuições de significativas relevâncias, nascem a teoria relacional (Haley), comunicativa (Watzlawick) e os conceitos de duplo vínculo, mistificações, resposta tangencial, simetria e complementaridade, etc. Vai sendo gradualmente superado o princípio de causalidade linear, substituído pelo de causalidade circular.

     3) - Período Sistêmico - O foco é a análise do sistema familiar "como um todo", das interações entre os subsistemas que o compõe e as trocas com os outros sistemas micro e macrossocial.

 

     Tem origem na Teoria Geral de Sistemas e leva em consideração a família toda, como uma unidade estrutural-funcional com modalidade transacional própria.

 

     Não se trata, na realidade, de uma total superação dos períodos precedentes, mas de uma integração com eles, enriquecida, justamente, pelo conceito de sistema. Este conceito permite alargar a ótica relacional para a sistêmica social mais ampla, mas, sem abandonar o valor da singularidade individual dos que o compõe.

 

     II - Camillo Loriedo - ("Terapia Relacional" Ed. Astrolabio - Roma, 1978) faz uma classificação dos terapeutas de família com base na modalidade de interação recíproca entre o terapeuta e familiares. Classifica os terapeutas em "condutores" e "reatores". Enquanto os primeiros, mantém abertamente o controle da relação terapêutica, os segundos se limitam mais a responder ao que a família apresenta.

 

     Os reatores, por sua vez, se subdividem em reatores-analistas (origem na postura psicanalítica) e sistema-puristas (derivados da Teoria dos Sistemas e da comunicação)

 

     Condutores - Ackerman, Satir, Bowen, Minuchin, Bell.
     Reator-analistas - Whitaker, Boszormenyi - Nagy, Framo.
     Sistema-puristas - Jackson, Haley, Watzlawick, Zuk.
     Em geral os condutores mantém constantemente uma posição ativa e assumem a liderança do grupo criando uma bem definida barreira geracional entre eles e os componentes da família.

 

     Os reatores deixam aos componentes da família a iniciativa do porque vieram à entrevista e intervém quando necessário. Tem, normalmente, um contato estreito com os membros da família, deixando só, excepcionalmente transparecer quais são os seus objetivos terapêuticos.

 

     Como se vê, tanto os condutores como os reatores, mantém controle energético da relação terapêutica, apesar de diferentes formas exteriores. No primeiro caso, este controle é explícito, no segundo, ao invés, é menos evidente e intrusivo, mas, não por isso, menos eficaz.

 

     No entanto, não se deve esquecer que a forma de funcionar do terapeuta nasce do impacto interativo com a família e que um modelo que se demonstra funcional em um determinado contexto relacional, não é, necessariamente, funcional em outro caso.

 

     A terapia, como afirma Haley, deve ser orientada com base na situação familiar presente, e seria um erro propor-se a adaptar a família a um modelo terapêutico pré constituído.

 

     III - Vicente Foley - em seu livro "An Introduction to Family Therapy" - 1974 - faz uma classificação de acordo com a sua posição teórica dos terapeutas, mais psicodinâmicos ou mais sistêmicos.

 

Abordagem Psicodinâmica

 

Martin
Grojahn

 

James
Framo

 

Murray
Bowen

 

John
Bell

 

Virgínia
Satir

 

Carl
Whitaker

 

Jay
Haley


Salvador
Minuchin

 

 

 

Abordagem Sistêmica


Referências bibliográficas

1. Terapia Relazionale - Le tecniche e i terapeuti - Camillo Loriedo - Casa Editrice Astrolabio - Roma - 1978.
2. La Táctica Del Cambio - Como abreviar la terapia - Richard Fisch; John H Weakland; Lynn Segal, Editorial Herder - Barcelona - 1984.
3. Os Seminários Didáticos da Psicanálise - Milton H Erickson - Imago Editora Ltda - Rio de Janeiro - 1983.
4. Famílias Funcionamento e Tratamento - Salvador Minuchin - Editora Artes Médicas - Porto Alegre - 1982.
5. Por Trás Da Máscara Familiar - Maurizio Andolfi, Claudio Angelo, Paolo Menghi, Anna Maria Corigliano-Nicoló- Artes Médicas - Porto Alegre - 1984.
6. Tempo e Mito em Psicoterapia Familiar - Maurizio Andolfi, Claudio Angelo - Artes Médicas - Porto Alegre - 1989.
7. A Terapia Familiar - Maurizio Andolfi - Editorial Vega - Lisboa - 1980.
8. Terapia do Grupo Familiar - Virginia Satir - Livraria Francisco Alves Editora S. A - Rio de Janeiro - 1977.
9. Terapia Familiar Estratégica - Cloé Madanes - Amorrortu Editores - Buenos Aires - 1980.
10. Estratégias En Psicoterapia - Jay Haley, Ediciones Toray S. A. - Barcelona - 1971.
11. Técnicas de Terapia Familiar - Salvador Minuchin, Charles H Fishman - Ediciones Paidos Barcelona - Buenos Aires - 1984.
12. El crisol de la familia.- C. Whitaker,. con A Napier - Amorrortu Editores - Buenos Aires - 1982.
13. Interaccioón familiar. Aportes Fundamentales sobre teoria y técnica - Gregory Bateson; J ,. Antonio Ferreira; Don D Jackson,.; Theodore Lidz,; John Weakland,; C. Lyman Wynne, H. Gerald Zuk - Ediciones Buenos Aires 1980.
14. Paradoja Y Contraparadoja - Mara Selvini Palazzoli,., G Cecchin.; L Boscolo; G Prata - Ed. A. C. E - Buenos Aires, Argentina - 1982.