Trabalhando Adolescentes e suas Famílias no Processo de Desenvolvimento de Autonomia

Solange Maria Rosset

Agosto de 2002.

 

"O apoio à responsabilidade e obrigação dos pais de determinar regras familiares assegura o direito e a obrigação do filho de crescer e de desenvolver autonomia. A tarefa do terapeuta é a de ajudar os subsistemas a negociarem e a se acomodarem entre si."

Salvador Minuchin, em "Famílias Funcionamento e tratamento" (Pg 63), Artes Médicas, PA, 1990

 

Esta citação de Minuchin é só uma das idéias dos mestres da terapia familiar (Haley, Andolfi, Erickson, Akerman) que me ajudaram a definir uma forma específica de trabalho com as famílias que buscavam auxilio terapêutico com filhos adolescentes.

Andolfi, enfatiza a mesma questão no "O problema da autonomia : o caso de Luciano" (em A terapia Familiar, Editorial Veja, Lisboa 1981).

Whitaker, discorre sobre esse tema em todo seu livro "Dançando com a Família"( Whitaker e Bumberry, Artes médicas - 1990) e até Ackerman, em 1958, já discorria sobre a questão da autonomia no desenvolvimento da família ( Diagnóstico e tratamento das relações familiares Artes Médicas, Porto Alegre, 1986).

Quando comecei a trabalhar como psicoterapeuta existia um senso comum na psicologia e na população em geral de que era esperado que adolescentes tivessem problemas com seus pais, existia a idéia inquestionável do chamado "conflito de gerações" . A inevitabilidade do conflito entre os pais e filhos por causa de hábitos, moral, regras diferentes dava uma explicação para as dificuldades, dava a comodidade dos bons álibis, e deixava pais, filhos e terapeutas sem muito o que fazer.

Nunca gostei muito desse tal apaziguador "conflito de gerações". Até usei muitas vezes ( acho que muito poucas!) essa boa saída, mas sempre procurei outras saídas, outras circulações.

Aos poucos fui estruturando a terapia com adolescentes, ou famílias com filhos adolescentes sem me ater, e sem levar em consideração essa leitura simplista da situação. Passei a trabalhar focando a adolescência como a fase de vida em que a pessoa pode escolher e construir o adulto que ele deseja ser e a terapia como uma possibilidade de se preparar para ser. Na maioria das vezes, os filhos, bem escolados pelas teorias psicológicas, pela culpa dos pais, pelo álibi do "conflito de gerações" tinham dificuldades em aceitar esse objetivo da terapia e se escudavam nos erros dos pais, nos sofrimentos que viveram. Na maioria das vezes esses erros e sofrimentos eram comuns, normais, rotineiros nos embates de pais e filhos, mas algumas vezes os mal tratos e sofrimentos eram intensos e devastadores.

Após essas reflexões e insatisfações na atuação com os adolescentes das famílias atendidas, estruturei uma forma de trabalho que sem ser rígida e fixa, segue aproximadamente os seguintes passos:

1ª Fase -

Recebimento da família e trabalho com a vinculação, levantamento e circulação dos sintomas e situações, redefinições, definições de objetivos .

2a Fase -

Sessões familiares para trabalho com os objetivos de aprendizagens familiares comuns, definidos na primeira fase.

3ª Fase -

Trabalho com sessões individuais do adolescente sintomático, e sessões de pais.

4ª Fase -

Novos encaminhamentos de acordo com o que for surgindo : sessões de casal, sessões de família

Além da compreensão teórica/técnica e clínica relacional sistêmica, esta proposta se torna coerente se compreendermos alguns dos pressupostos que a norteiam.

 

1. Os adolescentes funcionais :

Trabalham e/ou estudam

Tem amigos

Tem vida afetiva/sexual

Tem responsabilidades/tarefas em casa

 

2. Pais funcionais :

Tem responsabilidade e direito a exercer autoridade e limites

 

3. Foco e tarefa da terapia adolescente :

Apesar de, e com os erros/acertos/limites/exigências dos pais o filho deve desenvolver e desempenhar as 4 funções (pressuposto 1) e definir que tipo de adulto quer/vai ser

 

4. Foco e tarefa da terapia dos pais :

Aceitar a autonomia/privacidade/limites dos filhos

Exercer suas regras sem culpa mas com clareza e responsabilidade

Lidar com seus aspectos casal/individual que surgem ou dificultam o processo do filho.

 

Esta é a forma que no momento direciona meu trabalho com adolescentes, é baseada na minha proposta básica de que a tarefa do terapeuta é auxiliar seus clientes a terem mais consciência dos seus padrões de funcionamento, para poderem desenvolver as aprendizagens necessárias e assim estarem aptos a realizarem as mudanças pertinentes.

 

Texto resumo da Mesa Redonda

"Novas Reflexões do Trabalho com Famílias e Adolescentes"

no V Congresso Brasileiro de Terapia Familiar

Salvador - BA

Agosto 2002