A TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA

Solange Maria Rosset

Tereza Christina F. B. Paulus

Agosto de 1990.

 

     A TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA é uma proposta terapêutica de trabalho com as pessoas, as relações e os sistemas humanos.

 

     Por ser a síntese e integração de 15 anos de trabalho, torna-se praticamente impossível delimitar quais de seus aspectos são influência pura desta ou daquela linha teórico/técnica ou qual de seus aspectos são fruto da experiência, reflexão e desenvolvimento pessoal de suas sintetizadoras. No entanto, para compreender quais aspectos são particulares da TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA, torna-se necessário delimitar as influências mais significativas:

 

     Do Psicodrama incorporamos a proposta básica da Relação Terapêutica. O trabalho focado no momento, no aqui e agora; a noção de contextos (social, grupal, psicodramático) e níveis. Usamos, também, as teorias de Matriz de Identidade e Núcleo do EU para a compreensão do desenvolvimento, além do instrumental técnico/psicodramático que é riquíssimo.

 

     Da Terapia de Sistemas Familiares adotamos a leitura sistêmica das situações (estrutura, hierarquia e organização) bem como a postura básica de que a responsabilidade do processo é do cliente e de que o foco da Terapia é a mudança. Usamos, ainda, intervenções sistêmicas, a instrumentação do tempo (tarefas, intervalos, etc...) e o planejamento do processo visando eficácia.

 

     Da Terapia Corporal e de Energia adotamos como base a compreensão Energética dos seres vivos (fluxo, carga, descarga, etc...) bem como, a teoria do desenvolvimento (caráter) para compreensão do funcionamento. Usamos, também, o seu arsenal técnico e a permissão para o contato corporal com o cliente.

 

     Estas são influências mais diretas embora outras se somem ao longo do caminho, tais como: gestalt, A. T., neurolingüística, pensamento oriental, entre outros, em paralelo com as experiências pessoais.

 

Pressupostos básicos

 

     A TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA se fundamenta em alguns pressupostos básicos:

 

     O indivíduo é sempre referido em um sistema. O indivíduo isolado não existe; é uma abstração.

     No modelo de desenvolvimento humano, a matriz de identificação é a família. Para crescer é preciso estar dentro do grupo, trocando, aprendendo.

 

     A família em si é uma unidade, como um organismo, em que todas as partes estão ligadas e interagem. Há um movimento contínuo, circular, de trocas entre sistema familiar e a estrutura individual. Desta forma o indivíduo surge como elemento potencial de entrada de novos estímulos no sistema, ao mesmo tempo em que vive complexidades, contradições e conflitos. Isto dentro da rede interacional que compreende, não só a família atual, como a trigeracional.

 

     A família passa por ciclos onde, de diferentes maneiras, busca manter um equilíbrio. O drama é a estrutura da vida. A temática desenrola-se através das gerações. Uns saem, outros entram. O indivíduo é o ponto convergente, ponto de intersecção no tempo. A tarefa é ser feliz. A finalidade é viver com alegria. Assim, nós temos os personagens, a trama, os temas, os papéis e as funções distribuídas entre os participantes, nos diferentes ciclos e momentos do grupo.

 

     O indivíduo escolhe tudo que lhe acontece, o que se torna um quebra-cabeça solucionável. A própria pessoa é quem determina, na maioria dos casos, se os acontecimentos de sua vida continuarão existindo ou não. O nível de consciência da escolha é variável. O inconsciente é, simplesmente, todas as coisas que se escolhe não tomar consciência As pessoas, às vezes escolhem dor, sofrimento e não se permitem saber que estão escolhendo.

 

     Os sistemas (famílias, indivíduo, grupo, instituição) funcionam com um "quantun" de energia e vitalidade, de forma flexível e fluída ou congelada e repetitiva. A forma de circulação de energia determina o nível e a quantidade de saúde do sistema.

 

     O sintoma é visto como uma forma de comunicação; uma escolha (a menos pior); uma forma de linguagem; uma equilibração do sistema.

 

Trabalho clínico

 

     O trabalho se realiza:

 

     Pela não priorização do sintoma, mas sim da mudança e da aprendizagem de novos padrões de relação. Com isso não se isola o sintoma ou área sintomática do contexto mais amplo da pessoa e das relações.

 

     Pela leitura da rede de relações, buscando a compreensão do grupo e do indivíduo.

 

     Pela intevenção considerando e rearranjando as relações entre os indivíduos e do indivíduo consigo mesmo, sendo a própria relação com o Terapeuta, modelo de mudança.

 

     Pelo trabalho com a identidade familiar e a identidade pessoal nas vertentes do pertencer e do diferenciar-se.

 

     Pelo uso dos diversos níveis de comunicação verbal, não verbal, paraverbal; e das situações terapêuticas na própria rede, no grupo, nas tarefas, na relação terapêutica.

 

     Ao identificar o momento do processo (fases, sintoma...) a terapia se apresenta como situação de aprendizagem que cria um novo modelo temporário de contenção que permite dissolver as formas atuais do problema e repercorrer os caminhos que conduzem aos elementos originais mobilizando a força vital que pertence à própria família e ao próprio indivíduo; como tentativa de modificar o mundo dos significados atribuídos à situação problemática. Isto se faz a partir da identificação dos padrões repetitivos de funcionamento da mente e da rede de relações e através de um amplo arsenal técnico e relacional.

 

     Com ênfase no vivido, experimentado na sessão ou fora da sessão — tarefas — o fazer é prioritário para mudar. Através da confecção de um trabalho específico, único, particular a cada pessoa, casal ou família, a Terapia sai da padronização para a criação.

 

     A TERAPIA RELACIONAL SISTÊMICA não é uma nova descoberta, mas sim uma síntese.

 

     Um processo de síntese.

 

     Uma síntese em processo.