COMPREENSÃO RELACIONAL SISTÊMICA DOS MITOS FAMILIARES
Solange Maria Rosset
Janeiro de 1999.
1. Introdução
Esta forma de compreender e lidar com os Mitos
Familiares na psicoterapia Sistêmica, organizou-se a partir do estudo
dos Mitos em geral, da Teoria Geral dos Sistemas, dos escritos e ensinamentos
da psicóloga Zélia Nascimento, e das reflexões teóricas
e clínicas das Psicólogas Tereza Christina F. B. Paulus e Solange
Maria Rosset.
A proposta Relacional Sistêmica pressupõe
a compreensão mítica familiar para facilitar a definição
das aprendizagens e mudanças que o sistema necessita realizar ( seja
ele um sistema Indivíduo, Família, Casal ou Grupo).
2. Lei, Regra e Estratégia
A organização de um sistema se apoia nas suas Leis, Regras e Estratégias (que estão ligadas aos valores do sistema).
As Leis são: imutáveis
inconscientes
irracionais
inflexíveis
A palavra que acompanha a definição de uma Lei é - "E" - O que significa que aquilo que a Lei diz, é assim, é verdade absoluta para aquele sistema.
As Regras são : ou + ou - mutáveis
semi
conscientes ou sub conscientes
ou
+ ou - flexíveis
lógicas
A palavra que acompanha a definição
de uma Regra é - "Tem que" - O que significa que aquilo
que a Regra define, tem que ser, ou não deve ser, ou não
pode ser daquela forma.
As Estratégias são: mais conscientes
mais racionais
mais flexíveis
A palavra que acompanha a definição de uma Estratégia é -"Pode"- O que significa que aquilo que a Estratégia determina pode acontecer ou não acontecer desta forma.
Se alterarmos as Leis -> o Sistema se desestruturará
(com risco de cisão total).
Se alterarmos as Regras -> ocorrerá
uma alteração fundamental no sistema.
Se alterarmos as Estratégias -> acontecerão
mudanças no funcionamento e organização do sistema.
Quanto mais funcional for um sistema, ele terá
menos Leis, poucas Regras e mais Estratégias.
Quanto menos funcional for o sistema, ele terá
mais Leis rígidas, muitas Regras rígidas e poucas Estratégias
O objetivo da Terapia na proposta Relacional
Sistêmica, é alterar as Estratégias, flexibilizá-las,
e possibilitar a aprendizagem e criação de novas Estratégicas.
Num segundo momento (se houver condição
para isso) se trabalhará com as Regras.
Através das alterações nas
Estratégias vai se flexibilizando as Regras e todo o sistema.
3. Ideal, Rito e Mito
Lei <-> Mito
Regra <-> Rito
Estratégias <-> Ideal
Ideal (1) - são objetivos e metas que o sistema se propõe. São coerentes com o momento, adequados. São funcionais. São flexíveis, reorganizáveis. Se organizam Ideais numa 1ª geração.
Esse Ideal pode ser: - atingido (2), e passa-se
a criar novos ideais (3).
-
não atingido (4), e será abandonado (5) e passa-se a criar novos
ideais (6).
-
deixar de ser coerente (7), deixar de ser funcional -> porque foi
atingido e não se criam novos ideais e então se cristaliza, ou
-> porque
não foi atingido e criou-se uma situação disfuncional,
onde não circulam as informações, enrijece e estabelece
um segredo.
Neste caso, o que era Ideal (7), enrijece, torna-se
disfuncional (8) e passa para a geração seguinte como Rito (9).
Rito ("Tem que") (9) - é
a repetição, de forma mais ou menos inconsciente e fixa de um
comportamento, de fatos etc.
Se houverem circunstâncias (10) que possibilitem
a tomada de consciência (pessoas, terapeutas, relações,
crises, situações etc.) a pessoa pode vir a recriar Ideais (11)
(e se tornaria, então, 1a geração).
Se não surgirem estas circunstâncias,
repete-se, repete-se, (12) até passar para a geração seguinte
como Mito (13).
Mito - (13) É inconsciente. Não é falado, mas define a maior parte das situações de vida. É um objetivo irracional, disfuncional e inadequado ao momento e ao contexto. O que mantém o Mito é o segredo.
Determinismo mítico - (14) Vem
embutido no Mito um determinismo mítico, que define o que deve e o que
não pode ser feito. (É inconsciente).
Se o sujeito quebrar este determinismo (15), fica
sob o risco do castigo, de ter desobedecido, de ter ousado fazer diferente.
(Maldição mítica (16)). É sempre ligada à
morte ou loucura, sexo, $.
Se a pessoa não se rebelar, vai cumprir
simplesmente o determinismo. (17)
Se a vida e as circunstancias possibilitarem,
(terapeuta, terapia, situações, relações, etc..)
pode-se com consciência ou sem consciência do fato, transformar
(18) a maldição mítica em Missão mítica (19).
A Missão Mítica seria : mantendo
o determinismo mítico alterar-se a conotação. Transmutar
a energia.
A avaliação sempre deverá
ser trigeracional ® o que é sintoma agora pode ter sido Rito na geração
anterior. O que é Rito hoje pode ser sintoma na próxima geração.
O segredo se forma ligado a temas de sexualidade,
$, ou morte (ou loucura). Portanto os mitos são sempre ligados a esses
temas.
O sintoma pode ser uma tentativa de flexibilisar
o Mito, ou a explicitação da pressão mítica ou a
punição por ter quebrado o determinismo.
Os Mitos definem e preservam a identidade do sistema, e se transmitem transgeracionalmente. O caminho mítico é da 1ª para a 2ª e para a 3ª geração, de forma transversal, ou seja do avô materno para a mãe para o filho. Da avó paterna para o pai e para a filha.
ÂP ÁP ÂM
ÁM
P
M
FILHA FILHO
O homem passa suas questões míticas
para a sua filha que passará para seu neto.
A mulher passa suas questões míticas
para seu filho que passará para sua neta.
Tarefa -> descobrir uma forma de transformar a maldição mítica em missão mítica. Usar o mesmo conteúdo de uma forma criativa e funcional.
Texto escrito em 1990 e reorganizado em 1999.