Reflexões sobre a solidão

Solange Maria Rosset

Agosto de 2019

 

Solidão é a sensação de estar desconectado das pessoas; de não ter com quem contar ou de não precisar fazer algo para os outros. Essas duas definições de solidão apresentam os dois tipos básicos de solidão: A solidão como exercício de descobertas e auto conexão e a solidão como carência e sofrimento.

A possibilidade do indivíduo viver seus momentos de solidão de uma destas formas ou de outra tem sua raiz na forma como viveu essa experiência na sua família de origem. É nessa matriz básica de relacionamento e aprendizagem que interiorizamos nossos conceitos sobre solidão.

Se aprendemos que solidão é ruim, que estar solitário é culpa de alguém, que ser suprido pelo outro é tarefa ou falha do outro, viveremos nossa solidão como algo ruim. E, ao ficarmos sozinhos, os pensamentos e sentimentos serão uma consequência do que foi aprendido e assim entraremos num desencadear de mais pensamentos e mais sentimentos negativos e carentes.

Se vivemos no seio da nossa família de origem a aprendizagem de que solidão é uma situação inevitável da vida e dos relacionamentos, que pode ser uma escolha, e que pode ser bom estar sozinho, podemos fazer com que esses momentos sejam plenos de criação, recolhimento e descobertas.

A solidão é inevitável, pois estar em relação significa lidar com a impossibilidade de ser totalmente compreendido ou de compreender o outro completamente; significa que o que eu sinto não tem como ser sentido pelo outro, e nem eu poderei ter o real sentimento do outro, que sempre será permeado pelo que sinto e penso. Da mesma forma que ser suprido totalmente pelo outro é uma quimera. Se a pessoa aprendeu a se cuidar, se suprir do que lhe é necessário, poderá desenvolver a habilidade de pedir com clareza o que quer, e lidar com a frustração quando não receber, mas sem se desmontar.

Outra grande vantagem de passar um tempo sozinho é aproveitar esses momentos para fazer coisas novas, escapar da rotina e pôr em prática as coisas que se tem em mente.

Todas essas tarefas do mundo adulto serão mais fáceis ou mais difíceis dependendo do que vimos e aprendemos com os pais e outros membros da família de origem. Se essa compreensão não foi aprendida na origem, pode ser treinada a qualquer momento, desde que o sujeito realmente queira aprender e usufruir dos benefícios de estar só, de experimentar a solidão como uma forma de entrar em contato com sua essência, de realizar auto descobertas, de fazer escolhas, de ser inteiro estando sozinho. É  fundamental sentirmos essa solidão para que possamos refletir e ajustar padrões viciados de conduta e comportamento. Fugir da solidão constantemente significa abafar essa oportunidade de crescimento interior.